São Paulo, domingo, 5 de junho de 1994
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O real e o voto

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – O próprio Fernando Henrique Cardoso (PSDB/PFL/PTB) tem admitido, nos últimos dias, que a sua candidatura está pendurada no plano econômico ou mais particularmente no real, a ser introduzido no dia 1º.
Se é assim, o candidato tucano-pefelista teria todas as razões para festejar, porque a história recente da América Latina e do Brasil demonstra que a estabilidade econômica é sinônimo de popularidade para o seu responsável.
Como não parece haver muitas dúvidas de que o real abaterá a inflação, pelo menos até a votação, FHC disporá de uma arma formidável.
Convém, em todo o caso, introduzir algumas ressalvas. À primeira vista, estabilidade e sucesso eleitoral parecem, realmente, irmãos siameses. Se uma acontece, o outro acompanha inevitavelmente. O retrospecto histórico assim o demonstra.
No caso do Brasil do real, há entretanto dois pontos pelo menos que podem fazer diferença. O primeiro é a proximidade entre a data da eleição e a data de lançamento da moeda que trará a estabilidade ainda que apenas provisória.
Em outras experiências, a distância entre eleições e estabilidade era razoavelmente maior.
O segundo ponto, e o mais importante, diz respeito à hiperinflação. Países como Argentina e Bolívia passaram pelo trauma da hiperinflação. É uma fogueira tão infernal que predispõe a sociedade a aceitar qualquer dor, desde que se faça a estabilização da economia.
No Brasil não houve tal processo. Ao contrário. Um sistema quase perfeito de indexação fez com que a economia produzisse resultados impensáveis para o nível de inflação dos últimos muitos anos. Os problemas sociais se agravaram, é verdade, mas menos do que se poderia supor em função do altíssimo patamar alcançado pela inflação.
A estabilidade, portanto, pode não ter aqui o efeito balsâmico que se verificou em outros países. Logo, pode também não se traduzir, eleitoralmente, da mesma maneira. A conferir, logo, logo.

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