São Paulo, terça-feira, 7 de junho de 1994
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Alta dos preços do produto faz consumo cair no Brasil

DA REPORTAGEM LOCAL

Os brasileiros devem consumir 4 milhões de sacas de café neste primeiro semestre do ano, segundo dados preliminares da Associação Brasileira da Indústria do Café.
A principal causa desta retração é o aumento do preço em toda a cadeia produtiva, diz Américo Sato, presidente da Abic.
Luiz Moricochi, 50, do Instituto de Economia Agrícola, lembra que, na lavoura, a remuneração do produtor estava inferior a US$ 70 a saca nos últimos anos.
"Este ano, a remuneração deve chegar a US$ 150, com o mesmo custo de produção que varia entre US$ 40 e US$ 100 conforme a sua produtividade" diz Moricochi.
Para a indústria, o preço também subiu. Em dezembro de 93, a saca do café cru tipo 8 valia 61,07 URVs. "Em meados de maio, a média pulou para 117,9 URVs", diz Sato.
"A consequência é que o consumo no mercado interno deve ficar 20% menor em 94", afirma Dagmar Cupaiolo, 51, presidente do Sindicato da Indústria de Café de São Paulo.
O período de entressafra do grão (a colheita começou recentemente) e a contínua redução da produção são as principais causas da atual alta do café no mercado.
"A baixa remuneração do agricultor nos últimos cinco anos levou a diminuição da produção", diz Moricochi.
Ele lembra que o Brasil deve produzir 22 milhões de sacas este ano, contra 44 milhões de 1987.
Outro fator de alta de preço é a política de retenção do café realizada pelos países produtores, inclusive o Brasil.
"Tal política adiantou o processo de alta do produto já que causou a diminuição dos estoques mundiais", diz Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes, corretor do grão.
As exportações brasileiras também caíram neste primeiro semestre, segundo a Federação Brasileira dos Exportadores de Café (Febec).
"Tínhamos pouco produto no mercado, reflexo de uma produção baixa frente à média produzida na década passada e a diminuição dos estoques", diz Waldyr Ariano, presidente em exercício da Febec.
Para Ariano, os leilões de café realizados pelo governo devem manter o nível das exportações brasileiras. No ano passado, o Brasil exportou 17,8 milhões de sacas.
Os leilões de café começaram no mês passado. O governo está vendendo, após 15 anos sem desovar seu estoque, o café armazenado que pertencia ao extinto IBC (Instituto Brasileiro do Café).
A cotação do café está em alta nas Bolsas de Nova York e de Londres. "É o reflexo da escassez do produto no mundo", diz Carvalhaes.

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