São Paulo, terça-feira, 7 de junho de 1994
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Entrada de dólares no país quebra recorde em maio

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Entrada de dólares no país quebra recorde em maio
Exportadores e investidores estrangeiros trouxeram US$ 3,62 bi em divisas
A economia brasileira recebeu uma enxurrada de dólares em maio. Exportadores e investidores estrangeiros deixaram no país US$ 3,62 bilhões, recorde histórico. Em abril foram US$ 2,82 bilhões.
É mais dinheiro que o total de cruzeiros reais em circulação na economia (cerca de US$ 2,5 bilhões). O destino da maior parte desses dólares é a compra, pelo Banco Central, para engrossar as reservas do governo.
No resultado de maio, a recuperação das Bolsas de Valores fez a diferença. Segundo os dados contabilizados pelo Banco Central, as Bolsas atraíram US$ 710 milhões líquidos (descontadas as saídas de recursos).
As Bolsas de Valores são um termômetro da confiança dos investidores na economia. Em momentos de insegurança –como o afastamento do ex-presidente Fernando Collor– o capital estrangeiro deixa as Bolsas.
A entrada de dólares nas Bolsas foi menor em março e abril, quando o mercado de ações perdeu fôlego.
Motivo alegado pelos analistas do mercado: os EUA elevaram seus juros e "roubaram" parte do dinheiro investido no Brasil.
Os resultados colhidos pelo BC, entretanto, desmentem a informação de que os estrangeiros deixaram as Bolsas em março e abril, como chegou a ser dito.
Em março, US$ 295 milhões ingressaram nas Bolsas, e em abril, US$ 415 milhões. São resultados modestos, mas não houve saída líquida de capital estrangeiro.
A entrada líquida de dólares no país é chamada de saldo cambial. O BC soma os resultados das operações comerciais (exportações menos importações) e financeiras (Bolsas, empréstimos e financiamentos).
Os saldos de câmbio comercial são normalmente elevados, devido ao volume das exportações. As operações financeiras, mais sujeitas a fatores da política interna e da economia externa, definem o saldo total.
As operações comerciais de maio –dinheiro das exportações menos importações–, de resultados tradicionalmente positivos, registraram recorde de US$ 3,020 bilhões (US$ 2,610 bilhões em abril).
O recorde não se deve a um aumento das exportações de produtos nacionais. Os exportadores estão antecipando o recebimento de dólares de futuras operações, para aplicar o dinheiro a juros.
O saldo financeiro de maio foi de US$ 610 milhões, contra US$ 45 milhões no mês anterior. O melhor resultado nesse segmento ocorreu em janeiro, quando os ingressos somaram US$ 1,15 bilhão.
Pressão
O ingresso de capital estrangeiro no país será um dos principais fatores a determinar o sucesso ou o fracasso do plano.
Uma entrada recorde de dólares, como ocorreu em maio, não necessariamente é uma boa notícia para o Ministério da Fazenda. O ideal é que os dólares continuem entrando, mas em volume estável.
Os dólares recebidos pelo país são convertidos em moeda nacional, e aumentam a quantidade de dinheiro na praça. Pela teoria econômica, isso pressiona a inflação.
Para evitar que isso aconteça, o BC é obrigado a vender seus títulos e retirar o "excesso" de dinheiro. Nesse caso, aumenta a dívida do governo, como tem acontecido nos últimos meses.
O governo, no entanto, precisa dos dólares em suas reservas cambiais. Elas servem para o pagamento da dívida externa e também serão usadas para dar garantia –o lastro– à nova moeda, o real.
Segundo o plano econômico, a quantidade de reais colocada em circulação terá uma contrapartida em dólares. Ou seja, para cada R$ 1 emitido, haverá sempre US$ 1 nas reservas.
É uma forma de conferir ao real a característica de moeda forte, como é o dólar.
As reservas somam hoje US$ 38,2 bilhões em disponibilidade total. Apenas uma parcela inferior a US$ 9 bilhões será utilizada como lastro do real.(Gustavo Patú)

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