São Paulo, terça-feira, 7 de junho de 1994
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Um jogo-treino ainda é um jogo-treino

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, esses jogos-treinos ou jogos preparatórios não podem ser tomados como antecipação perfeita do que ocorrerá na Copa do Mundo, que começa daqui a dez dias.
Não podemos nos esquecer que o grande escrete de 1970 despediu-se do Brasil derrotado pelo Atlético Mineiro e sob um vendaval de vaias. Nelson Rodrigues disse que o exílio do time era aqui mesmo.
Johan Cruyff lembra que, nessa mesma fase de preparação, há vinte anos atrás, nessa mesma época do ano, o carrossel holandês dava vexame em jogos-treino contra times de terceira divisão.
Já durante a Copa ele parecia o time mais adestrado, mais bem treinado da história da humanidade, tal a perfeição das suas jogadas em conjunto, com ou sem a posse da bola.
Agora mesmo, nesta pré-estação da Copa, vemos os mais disparatados resultados: a Alemanha ora perde, ora ganha, a Suécia, nossos adversários, idem, a Argentina tropeça aqui, levanta-se ali etc.
Os resultados malucos são frutos do ajuste de cada equipe, para o qual contam diversos fatores. Entre eles:
1) O diferente estágio de condicionamento físico de cada jogador. Os times estão desiguais: alguns jogadores bem, outros mal. Alguns em fim de temporada, outros no meio, outros no início;
2) Na seleção brasileira, os jogadores que vieram da Europa acabaram agora os seus campeonatos nacionais e continentais. Os do Brasil, estão no meio de temporada. Uns correm mais do que outros.
3) Ajuste tático. Como a maior parte dos elencos só se completou realmente agora, é preciso um pouco mais de jogo para cada peça tornar-se uma correia de transmissão automática para outra.
4) Os jogadores tentam evitar a qualquer custo uma contusão. Não faria sentido expor-se neste momento. Seria como um desafiante ao título mundial ser nocauteado pelo "sparring" na véspera.
5) A concentração no jogo também é menor. Há um pouco mais de displicência. Concentração no jogo é um fator importantíssimo em um torneio curto, de vida ou morte, como é a Copa.
(Muito do sucesso dos alemães em Copas do Mundo se deve a este fator: os jogadores conseguem um auto-controle emocional maior e dificilmente erram fundamentos, como pênaltis e passes).
6) O treino é uma atividade específica. Não pode ser confundido com jogo. Há até o folclore que diz que time burro se treinar fica burro e meio. Não se ganha jogo em treino. Ponto.
7) Se jogo é diferente de treino, jogo de Copa do Mundo mais ainda. Ali, está estatisticamente comprovado, a tradição é uma variável concreta da disputa. Principalmente a partir das oitavas-de-final.
Portanto, não dá para pré-julgar todo o desempenho de Brasil, Alemanha, Itália e Argentina somente por esses jogos preparatórios destas semanas.
Mas, mesmo levando em consideração todo este rosário de ressalvas rezado acima, não dá para não ver que o time de Parreira está igual àquela menina da velha canção: ou toma jeito e vai ou a casa cai.
Amanhã a gente confere. Outra vez.
*
O argumento de Parreira para convocar o Paulo Sérgio diz que quem dá certo no campeonato da Alemanha precisa ser levado para a seleção.
Se for assim, a Suíça já está na final da Copa. Porque alguns dos seus melhores jogadores vão muito bem no torneio alemão. E ninguém vai melhor no campeonato alemão do que a própria Alemanha.
Se o argumento de Parreira tem lógica –e os alemães prezam muito a lógica– a final da Copa só pode ser Suíça x Alemanha. Com o Parreira e o Paulo Sérgio assitindo da arquibancada, né tchurma?

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