São Paulo, terça-feira, 7 de junho de 1994 |
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Sepultura conquista súditos na Inglaterra
SÉRGIO MALBERGIER
"É a primeira vez que uma banda do Terceiro Mundo participa", disse à Folha Andreas Kisser, 25, guitarrista do Sepultura. Na quinta-feira, a banda fez uma sessão de autógrafos na loja de discos Tower Records, no centro de Londres. Eles chegaram ao local às 16h num ônibus de dois andares aberto e foram saudados pelas centenas de fãs que faziam uma fila de três quarteirões fora da loja. As faixas do Sepultura afixadas no ônibus foram jogadas ao público, em meio à gritaria. Dentro da loja, os membros da banda –os irmãos Max (guitarra e vocal) e Igor (bateria) Cavalera, mais Paulo Pinto Jr. (baixo) e Kisser– passaram três horas autografando discos, pôsteres, botas e casacos de adolescentes britânicos. O único símbolo de brasilidade à vista era a fitinha do São Paulo Futebol Clube no pulso de Kisser. O Sepultura está em alta. Quando esteve em Londres no final do ano passado para autografar o disco "Chaos AD", tinha um terço dos fãs que apareceram agora, segundo cálculo de Kisser. Já na Cidade do México, eles ficaram sete horas dando autógrafos. A banda mora atualmente nos EUA. Kisser, Max e Pinto estão em Phoenix (Arizona), cidade da empresária da banda e mulher de Max, Gloria. Igor, surfista, mora em San Diego, na Califórnia. O dinheiro que começa a entrar já deu para Kisser dar entrada em uma casa em Phoenix. Eles pensam em voltar ao Brasil? "Acho que sim", diz Kisser sem entusiasmo, lembrando que a banda não tem visto de residência nos EUA, só de trabalho. As maiores saudades do Brasil são da comida, da mãe e dos amigos. Kisser critica a desorganização dos shows no Brasil, mas diz que é sempre bom tocar no país. Para outubro, planejam uma grande turnê passando por São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Nordeste. Kisser é o lado ABC do Sepultura, formado pelos irmãos Cavalera em Belo Horizonte, em 1984. Ele ganhou um violão em uma rifa e começou a carreira speed/death metal em bandas de Santo André até entrar no Sepultura, em 87. A carreira da banda deu uma virada ao ser contratada pela gravadora americana Roadrunner, em 1989, lançando os bem-sucedidos "Beneath the Remains" (89), "Arise" (91) e "Chaos AD" (93). "Arise" foi disco de platina até na Indonésia, onde tocaram para 50 mil pessoas. Ainda não há músicas prontas para o próximo disco, que só deve sair em 95. O método da banda é entrar no estúdio e ver o que sai. Até dezembro, porém, eles já estão com shows marcados pelo mundo. Mais de cem por ano. O Sepultura se apresentou na Inglaterra na mesma semana em que Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa e Maria Bethânia. Se no show dos ex-Doces Bárbaros cerca de 80% da platéia era brasileira, no do Sepultura só havia europeus. "Eu nunca gostei muito de MPB", diz Kisser, "mas respeito". Caetano também respeita o Sepultura. "Eles são muito competentes no que fazem", disse à Folha. O compositor baiano, porém, não conseguiu esconder uma ponta de ciúmes ao saber da fila de fãs do Sepultura que movimentou o centro de Londres. Texto Anterior: Cada um tem seu caminho até Deus Próximo Texto: Banda tocou pesado e marcou presença Índice |
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