São Paulo, terça-feira, 7 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para Aprà, a indústria é que está em crise

DA REDAÇÃO

A seguir, Adriano Aprà fala sobre as transformações do cinema nas últimas três décadas.

Folha - Como o sr. vê o cinema nos anos 90 em relação ao início de Pesaro?
Aprà - Nos anos 60 e 70, havia um movimento mundial, pessoas em torno de 30 anos que possuíam uma espécie de língua comum. Faziam uma espécie de cinema muito diferente do que se fazia antes. Havia também uma linguagem comum, de modo que quando as pessoas se encontravam tinham a impressão de reencontrar um amigo.
Hoje, não se tem a impressão de um movimento mundial que busque renovar o cinema. O que há são muitas pessoas fazendo, cada um em seu canto, um trabalho de renovação do cinema.
Também tornou-se muito difícil fazer um cinema novo que seja notado pelo público. O cinema que se vê quase sempre nas salas, hoje, é o cinema americano, que é um cinema respeitável, sem dúvida, mas que só pode ser abordado pelos EUA, que têm uma grande máquina industrial.
Mas eu, que frequento muito os festivais, me surpreendo ao ver que, embora se fale muito em crise dos novos cinemas, existe uma grande quantidade de filmes muito diferentes do cinema dominante dos EUA.
Os problemas, penso, não existem do ponto de vista da criação, mas da distribuição. Existe, sim, uma crise da indústria. Ela é que não tem conseguido se renovar ou, em todo caso, não estabelece relações saudáveis com a criação.
Folha - Como se coloca, na Itália, a questão da hegemonia do cinema americano?
Aprà - Na Itália o problema não é só no cinema, mas também na TV. A maioria dos filmes que passam na TV são americanos. Os poucos filmes de outros países programados entram em horários de baixa audiência. É certo que o cinema criativo em geral é feito com pouco dinheiro, não tem necessidade de bilheterias enormes para cobrir seus custos. Mas é verdade que a "besta negra" do cinema novo é o cinema americano. Em todos os países do mundo. Mesmo os EUA.
Agora, na Itália a criação está em crise desde os anos 70. Há exceções, mas são cineastas marginais, que chegam com dificuldade ao público. Falta um Rossellini, um Pasolini. Mas eu destacaria Nanni Moretti, que este ano ganhou o prêmio de melhor diretor no festival de Cannes com "Caro Diário". É um exemplo de cinema inovador e pessoal com bastante sucesso de público.
Também há filmes como "Mediterrâneo" ou "Cinema Paradiso", que fizeram muito sucesso. Não sou favorável a eles. Mas, independente do meu juízo pessoal, há de se admitir que são filmes extremamente tradicionais. Penso que Moretti é o único cineasta na Itália ao mesmo tempo popular e inovador.

LEIA MAIS sobre Pesaro à pág. 5-3.

Texto Anterior: Pesaro procura o cinema do século 21
Próximo Texto: Lamê; Ópera; Arrimo; Brisa; Sapé; Quitanda; Lírio
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.