São Paulo, terça-feira, 7 de junho de 1994
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Diretor de festival aposta na tecnologia

DA REDAÇÃO

O surgimento de novas tecnologias, o papel da TV e do vídeo, e suas relações com o cinema são a preocupação do teórico Adriano Aprà:

Folha - Como o sr. vê a França, onde o que há de mais interessante parece, ainda, vir da Nouvelle Vague?
Aprà - Estou de acordo. Eric Rohmer, ou Godard, ou Jacques Rivette são veteranos. Mas é impressionante como continuam a se renovar. Agora, penso que o jovem cinema francês, no seu conjunto, é ainda o mais vivo da Europa. Acho que a atitude do governo francês em relação a seu cinema funciona. Na Itália, também há formas de financiamento à produção. Mas o dinheiro é dado como se fosse uma esmola. Não há preocupação com o filme, com a distribuição. Existe o dinheiro, mas não uma política consequente.
Folha - Como vê a renovação de idéias no cinema, hoje?
Aprà - Vejo obras isoladas e inovadoras. Mas elas não constituem um pensamento, um movimento. Está tudo disperso. Isso não me deixa de modo algum pessimista em relação ao futuro. O cinema não está fechado em si mesmo, está mudando muito. As crianças de hoje verão um futuro muito diferente, e nesse processo creio que haverá uma parte importante reservada à criação.
Folha - Isso passa pelas relações do cinema com a TV?
Aprà - Pode-se dizer que a TV destruiu o aspecto mágico da projeção em salas. Mas é sempre assim. O desenvolvimento tecnológico provoca desastres, de um lado, e de outro propicia inovações. Assim, nesse grande caos que é a TV, podemos de vez em quando ver bons filmes que em outras circunstâncias jamais seriam vistos.
Mas TV não é só a TV, hoje. É também o videocassete, que nos permite fazer nossa própria programação. Então, no conjunto não sou contra a televisão.
As pessoas que fazem cinema quase sempre detestam certos avanços tecnológicos. Veja, com os negativos de alta sensibilidade perdeu-se em qualidade de fotografia. Ao mesmo tempo, graças a isso, a Nouvelle Vague inventou um tipo de iluminação que custava muito barato. O resultado é que hoje se pode filmar em qualquer lugar, quase sem luz, o que nos anos 30 era inconcebível.
Enfim, a maioria das pessoas aproveita a tecnologia para não ter que pensar. Tudo parece muito fácil. Nada é fácil. O fato é que o progresso tem sempre dois aspectos: um de perda e um de ganho. Penso que se deve apostar sempre naquilo que se ganha.

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