São Paulo, terça-feira, 7 de junho de 1994
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P o quê?

O levantamento publicado ontem por esta Folha acerca das coligações eleitorais no âmbito dos Estados vem revelar que estas alianças regionais seguem uma lógica própria, diversa daquela que norteou os acordos no plano federal.
Isso não quer dizer, é certo, que os acertos feitos com vistas à sucessão presidencial tenham sido completamente ignorados no campo regional. Alianças estaduais entre o PSDB e o PFL –tão díspares são essas agremiações– provavelmente seriam raríssimas não tivesse ocorrido o polêmico acordo em torno da candidatura Fernando Henrique Cardoso. Mas o balanço revela que esses partidos concorrem juntos em sete Estados, incluindo alguns de peso eleitoral como São Paulo, Rio, Pernambuco e Paraná.
Um número maior de acertos estaduais, no entanto, foi feito à margem desse acordo federal. O principal destaque do levantamento, nesse sentido, é o que ele revela da total falta de coerência e de consistência ideológica dos partidos brasileiros em geral. Com efeito, as alianças se multiplicam em tantas combinações diferentes que tornam patente a fragilidade –se não a própria inexistência– de qualquer identidade programática.
Ao desafiar a racionalidade ideológica, essa variabilidade das coligações estaduais põe às claras a soberania do casuísmo eletoreiro regional e das amizades e aversões pessoais. O PSDB, por exemplo, não se acanha em fazer alianças, indistintamente, com o PPR, de um lado, e com o PT, do outro extremo do espectro político. Há, aliás, aquelas chapas que chegam a unir o PPS (ex-PCB) ao PPR, e o PL ao PC do B. Adversários no âmbito federal são aliados no campo estadual e vice-versa.
Fica evidente que tais acordos não são feitos com base em qualquer semelhança de programas e projetos de governo. A conclusão que resta, inevitável, é a de que a lógica que comanda os acertos eleitorais e não apenas nos Estados, como também no âmbito federal, é a da política miúda, meramente eleitoreira e totalmente alheia a qualquer preocupação ideológica. Situação, desnecessário dizer, que em nada contribui para o amadurecimento político do país.

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