São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 1994
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Castelbajac divide mundo da moda em SP

MARCOS MORCERF
DA REDAÇÃO

O desfile do estilista francês Jean Charles de Castelbajac na Fenit, em São Paulo esta semana, dividiu o meio da moda. Em sua edição de ontem, Atitude publicou crítica negativa do desfile. Leia a seguir a opinião do estilista Marcos Morcerf, um de seus principais defensores, mais a repercussão entre nomes do setor.
*MARCOS MORCERFEspecial para a Folha
Castelbejac não é top, não é novidadeiro nem moderno. Os temas que apresentou em seu desfile são os mesmos que inspiram grande parte de estilistas do planeta, e foi bastante amplo para abranger a cultura medieval e as injustiças e misérias do Quarto Mundo.
Uma parte do show chegou a ser medonha, como a malharia de perua européia ou os infelizes terninhos e boininhas à la parisiènne. Mas o longo desfile foi muito bom, se observado sob a ótica de como foram trabalhados os temas, ou seja, a sensibilidade e propriedade como Castelbejac interpreta.
A eclética combinação de materiais, com pesos e caimentos bem diversificados, das peles sintéticas aos casacões de couro, foram sempre associados às cores superintensas.
Os temas "vudus" como Chico Mendes, crianças famintas e miséria, tiveram o tratamento de ampliações gigantes em P&B de fotojornalismo, contrastando com as vibrantes cores primárias, compondo um painel pop, consciente, sem ser demagogo e sensível em quimonos-estandartes. Mais para a wearable-art, que fariam o deleite dos olhos do Hélio Oiticica e da Orietta Del Sole.
As penas indígenas, pareciam saídas da loja de brinquedos nova-iorquina FAO-Schwartz, assim como os casacos de muitos ursinhos poli ou monocromáticos. Na seção "naive": o casaco de bonequinhas de pano de feira, os bordados, as colchas de cama e o xadrez de rede ou cobertores, nada rançosos (alô Marjorie Gueller).
Impressionou também o desenvolvimento de produtos: o mesmo tom exato e vibrante de cor nos sapatos, meias, luvas, penas, peles ou tecidos, causam suspiros em quem tenta fazer moda coordenada no Brasil.
É para ficar atento às soluções que fogem às unanimidades dos tops fustigados pela mídia da moda, além de informação aos iniciantes e seus trabalhos escolares dos prêmios Smirnoff.
A platéia e a imprensa se mostraram também bastante insensíveis às homenagens que Castelbajac fez aos brasileiros, que teriam emocionado platéia de qualquer outro país do mundo.

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