São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 1994
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East Pacific importa novas cores para a mesa

HAMILTON DE MELLO JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

Até 5 anos atrás, vivia-se na gastronomia paulistana o terceiro círculo do Inferno de Dante. Tal qual nos escritos do italiano, a escuridão era completa. Queria-se fazer, sabia-se ousar, mas os ingredientes não eram disponíveis na cidade.
Dispunha-se, então, somente daqueles produtos que qualquer pessoa poderia encontrar e comprar em qualquer supermercado.
Hoje, tropeça-se diariamente em novidades, algumas das quais nem os experimentados chefes estrangeiros que aqui vivem já tinham ouvido falar.
Isto se deve à abnegação de alguns corajosos importadores, que acreditaram num mercado desconhecido e insípido, mas que logo revelou-se famélico.
Entre estes deve-se conhecer o lituano Antonio Roberto Valavicius, proprietário da East Pacific. No mercado há somente 2 anos, ele tem gourmandises interessantíssimas que fornece a todos os bons restaurantes da cidade de São Paulo, atendendo também a particulares, desde que numa quantidade razoável.
A sua linha de verduras importadas, a maioria holandesa, inclui a friseè, um tipo de chicória crespa que faz a delícia de qualquer salada na França; o radicchio rosso, uma deliciosa verdura italiana, revitalizada pela nova cozinha; e alcachofras do tipo romano, sem espinhos, que podem ser comidas inteiras.
Também possui as echalotas, um parente da cebola, que tem desta um pouco da doçura com um perfume sofisticado de alho, invariavelmente adulterada na tradução dos livros de culinária para a nossa comum cebola.
É para serem destacadas, também, as pois mange tout, vagens grandes e largas que não têm fio e são supermacias; as baby carrots, doces mini cenouras; e os cherry tomatos, pequenos e amarelos tremendamente decorativos.
Capítulo à parte são seus pimentões coloridos. Pretos, brancos, amarelos, laranja ou vermelhos, são muito mais doces e carnudos do que encontramos no mercado, além da beleza das cores, é claro, que os diferencia ainda mais.
No departamento das frutas, ele tem framboesas congeladas e disponíveis o ano todo; blueberries, uma amora de coloração azul, muito utilizada na cozinha inglesa, além das uvas red flames, doces e saborosas e que foram a sensação do último verão europeu.
Em matéria de peixe, Valavicius tem importado o salmão fresco e defumado chileno (país que já é o segundo maior exportador mundial); a truta salmonada, que quem ainda não comeu deveria experimentar; vieiras, assim como ostras gigantes.
Importa ainda o famoso mero, um tipo de bacalhau fresco delicioso, especial para se fazer grelhado.
Deixo o melhor para o final: patos nascidos na França e criados no Uruguai, que posteriormente fornecem o magret (peito desossado), além de um foie gras que não deve nada ao original francês, proveniente da região de Perigord (leia receita ao lado).
Estes produtos podem ser encontrados também em boas mercearias, como a Casa Santa Luzia.
Agora, é curioso, que alguns restaurantes da cidade não estejam antenados com esta revolução de produtos e continuem a usar aspargos, escargots, salmão, ervilhas, foie gras e que tais.
Enfim, enlatados que não são apenas um desrespeito ao paladar do cliente, mas também um erro na relação custo-benefício, pois os preços destas iguarias não são tão altos e pagam plenamente a satisfação do consumidor.
O Valavicius atende na sede da East Pacific (r. Conde de Itú, 558, tels. 011/524-7002 e 548-5169, Alto da Boa Vista, zona Sul de São Paulo).

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