São Paulo, sexta-feira, 10 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Uma trágica descoberta

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Todos (repito, todos e, principalmente, os candidatos) os indivíduos que se consideram preocupados com o Brasil deveriam prestar atenção a uma assombrosa descoberta. Através de detalhado acompanhamento de 2 milhões de crianças, a Igreja Católica constatou explosão da mortalidade infantil nos três primeiros meses deste ano.
Através da Pastoral da Criança, a Igreja realiza acompanhamento diário de 1.339.193 famílias que vivem em extrema pobreza, visando reduzir a mortalidade infantil –elas têm 1.935.433 filhos que não completaram seis anos, espalhados em 2.068 municípios. É, portanto, um monumental indicador social.
Até o ano passado, a mortalidade infantil entre as famílias atendidas pela pastoral era de 28 por 1.000 –ou seja: de cada 1.000 nascidos, 28 morriam antes de completarem 12 meses de vida. Nos primeiros cinco meses deste ano, o número pulou para 33, o que é um aumento de mais de 10%.
Pior ainda foi no Nordeste. Lá, a taxa pulou de 38 para 49 –28,9%. A explicação dos médicos da pastoral: seca, cólera, aumento da desnutrição e piora do atendimento do sistema público de saúde. Traduzindo: aumento da pobreza.
Note-se que, nesse grupo analisado, a família é educada para vacinar, fazer o aleitamento materno, aplicar e reidratação oral e tomar medidas básicas de higiene. Imagine-se, então, o que está acontecendo com aqueles que vivem na total desinformação e desamparo. Aliás, segundo dados que chegam ao Unicef, está caindo a vacinação.
Se um candidato a governador ou presidente não souber dizer como vai enfrentar esse problema, é simplesmente porque não presta. Não há nada mais grave e sintomático da deterioração social do que a mortalidade infantil, provocada por doenças facilmente evitáveis.
PS – Aliás, o planejamento familiar não é o único, mas é um dos bons remédios para reduzir o controle da natalidade que, no Brasil, é feito via mortalidade infantil –são, na verdade, assassinatos cometidos pela omissão, incompetência ou irresponsabilidade do poder público.

Texto Anterior: Eu não fiz nada
Próximo Texto: Chegaremos lá
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.