São Paulo, sábado, 11 de junho de 1994
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Câmara de oxigênio é usada para tratar infecção de garoto no Guarujá

MARCUS FERNANDES; AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL E DA AGÊNCIA FOLHA

Uma câmara hiperbárica instalada numa lancha do Corpo de Bombeiros do Guarujá (87 km a sudeste de São Paulo) vem sendo utilizada para tentar salvar um menino de 2 anos suspeito de ser vítima de fasciíte necrotizante.
A doença é a mesma que matando no Reino Unido. A câmara hiperbárica em questão é usada para readaptar mergulhadores a mudanças bruscas de pressão.
O tratamento foi proposto pelo médico Jone de Almeida, chefe da UTI pediátrica do Hospital Santo Amaro, do Guarujá.
O menino –de uma família de baixa renda da periferia da cidade– foi internado no último dia 30 com ferimentos na região perineal (espaço entre o ânus e os órgãos genitais).
Segundo o pediatra Almeida, a infecção que atingiu o garoto penetra na pele e destrói a fáscia, tecido fibroso que envolve os músculos. "Daí vem o nome fasciíte necrotizante", explica.
A fasciíte necrotizante do Reino Unido é causada por um estreptococo do tipo A. Segundo os médicos do Guarujá, a infecção do menino foi provocada por uma bactéria anaeróbica (que vive sem oxigênio) de tipo não identificado pelos exames laboratoriais.
O médico Almeida disse que a fasciíte provocada pelo estreptococo "possui uma velocidade de contágio muito maior que a causada por bactérias anaeróbicas".
Tanto a fasciíte como o uso do oxigênio hiperbárico –em pressão superior àquela do nível do mar– são conhecidos pela medicina.
Desde final de 92, o Hospital das Clínicas de São Paulo tem a única câmara hiperbárica hospitalar na América Latina. Uma segunda câmara deste tipo está sendo instalada no Hospital 9 de Julho.
A médica Marisa D'Agostinho Dias, do pronto-socorro do HC, diz que 165 pacientes já foram tratados na câmara hiperbárica do hospital. Pelo menos 40 eram vítimas da fasciíte necrotizante.
A câmara hospitalar é um cilindro de acrílico com 2,14 m de comprimento por 1,20 m de diâmetro. O paciente se comunica com o exterior por um microfone. O oxigênio e a pressão são controlados por computador.
O aumento da pressão melhora a circulação sanguínea, permitindo maior oxigenação dos tecidos e melhor atuação dos antibióticos.
Segundo Marisa D'Agostinho, a câmara vem sendo empregada "com sucesso" em infecções por bactérias anaeróbicas, aeróbicas e mistas. A maioria dos pacientes são politraumatizados e vítimas de ferimentos graves.
No entanto, qualquer machucado pode evoluir para uma infecção grave como a fasciíte. O estreptococo tipo A, por exemplo, é o mesmo que provoca faringites e amigdalites.
Segundo os médicos, a evolução da infecção depende de ferimentos, das defesas do organismo, e mesmo de mutações nas bactérias.(Marcus Fernandes e Aureliano Biancarelli)

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