São Paulo, sábado, 11 de junho de 1994
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Texto descreve loucura e crime, venenos e morte

MARCO CHIARETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Acqua Toffana" é um veneno. Uma droga mortal, meio mítica, "cuja fórmula contém arsênio". Teria sido usada para matar Wolfgang Amadeus Mozart, réu de traição aos príncipios franco-maçons. Mata devagar. O sujeito não sabe que morre. Vai bebendo, comendo, vivendo. E morre.
"Acqua Toffana" é também o primeiro livro de Patrícia Melo, que vasculhou arquivos judiciários, delegacias, mentes policiais e criminosas, livros de legistas, dicionários médicos e psiquiátricos, jornais e boletins de ocorrência. Patrícia gosta de histórias.
Seu livro, duas novelas entrelaçadas pela idéia da morte e do crime, do "crime artístico", é uma descrição seca, concisa, dura, daquilo que os olhos e as mentes de suas criaturas pensam, sentem e perpetram. Há ciúme, há método, há vísceras e sangue. São loucos descrevendo suas vidas. Humanos.
Há um problema na palavra "louco", em sua simples pronúncia. Um dos méritos do livro é conseguir criar o espaço da loucura usando obsessivamente as palavras. Repetidas. Cortadas. Frases curtas e grossas. Eu quero fatos, nomes, berra o delegado. O leitor também. Estão lá.
O contador da segunda parte é filho e neto de costureiras. Obcecado. "Conheço as mulheres. São massas sangrentas, traição e flores". É um predador. A mulher da primeira parte é uma vítima. Obcecada. Tem medo da sombra. Patrícia descreve seus medos, palavra a palavra, nem uma a mais, nem uma a menos.
"As mulheres existem para que os homens se meçam, li isso em algum lugar". A citação borgiana dá o tom. A vida é o palco, o sexo, a medida. O assunto é universal. "Acqua Toffana" consegue retomá-lo sem repetir. Há sempre um pouco de novidade na literatura. (Marco Chiaretti)

Título: Acqua Toffana
Autora: Patrícia Melo
Páginas: 133
Quanto: 11,50 URVs

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