São Paulo, sábado, 11 de junho de 1994
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Ciclo Massaini ilustra função do produtor

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Ciclo: Oswaldo Massaini - Um Produtor de Cinema
Abertura: hoje, às 16h , com exibição de "O Santo Milagroso"
Quando: até 17 de junho
Onde: Sala Cinemateca (r. Fradique Coutinho, 361, Pinheiros, tel. 011/881-6542)
Preço: CR$ 4.000 (de seg. a qui.) e CR$ 5.000 (sex. a dom.)

O ciclo "Oswaldo Massaini - Um Produtor de Cinema", a partir de hoje na Sala Cinemateca, é bem mais que uma homenagem. Os onze filmes a serem exibidos tanto ilustram o trabalho do produtor, morto em 25 de maio de 1994, como falam de uma concepção de cinema.
É, ao mesmo tempo, uma formidável ocasião para aprofundar uma questão que até hoje o cinema brasileiro deixou de lado: a arte de produzir.
Massaini vem dos anos 50 e concebia o cinema como arte industrial –em que o produtor é uma presença ativa, impõe seu gosto, interfere no resultado final.
Foi assim que Massaini tornou-se o mais importante produtor brasileiro, o único a ganhar uma Palma de Ouro em Cannes (em 1962, com "O Pagador de Promessas").
Essa concepção levou-o a um trabalho produtivo, no ciclo do cangaço (em que seu artesão mais representativo foi Carlos Coimbra). Da mesma forma levou-o ao duvidoso "Independência ou Morte" (feito em 1972 para comemorar os 150 anos de Independência do Brasil).
A maior parte dos filmes a serem exibidos dão conta desse "padrão Massaini": ao mesmo tempo filmes de apelo popular, mas feitos com o cuidado necessário para atingir a classe média (um público tradicionalmente mais arredio ao cinema brasileiro).
Nesse sentido, a concepção de Massaini é datada: sua Cinedistri trabalhava basicamente uma idéia de produção dos anos 40/50.
Mas o conjunto de seus filmes mostra que essa concepção se aguentava ainda nos 70 ("O Marginal", de Carlos Manga, é ótimo) e fazia sentido em seu tempo.
O êxito de Massaini coloca a questão que raramente foi resolvida no quadro brasileiro: qual a função do produtor no cinema? À força de serem negligenciados, os produtores desapareceram, ou quase. Em todo caso, contam-se nos dedos os dignos desse nome.
Mas a questão permanece: reciclar o papel do produtor, promover seu convívio com um cinema em que o diretor tornou-se autor e principal estrela, encontrar o equilíbrio entre concepção artística e comércio são aspectos para os quais a cinematografia não encontrou respostas convincentes.
A capacidade de encontrar respostas para o seu tempo fez a importância de Massaini. Da mesma forma que a criação de um modo original de produção fez a importância do Cinema Novo.
Ao mostrar os filmes de Oswaldo Massaini, a Cinemateca faz algo mais do que uma homenagem: abre a oportunidade de julgar o trabalho de produtor não como um comerciante, mas como verdadeiro artista, que talvez não crie formas novas, mas com toda certeza propicia seu aparecimento.
Uma função central, que o cinema brasileiro negligenciou há muito tempo. Talvez por isso esteja na tanga que está. (Inácio Araujo)

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