São Paulo, sábado, 11 de junho de 1994
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É possível implementar uma política de emprego no Brasil?

Impedir um Titanic social

HERBERT DE SOUZA
SIM

É. Basta querer. Essa é uma decisão política que deve ser assumida pelo Estado e pela sociedade. Essa questão foi levantada pela Ação da Cidadania em sua luta contra a fome, a miséria e pela vida. Para arrancar o país da indigência são necessários 9 milhões de novos empregos.
Mas essa decisão não é simples. Se pretendermos criar 9 milhões de empregos industriais, sofisticados, em empresas informatizadas, robotizadas, essa meta é impossível no Brasil como em qualquer outro país do mundo. O desemprego estrutural crescente da Europa industrializada é a prova disso.
Mas se a questão é combater a miséria, é gerar postos de trabalho com salários mínimos ou básicos, mobilizando todos os recursos disponíveis do poder público em todos os níveis e os da própria sociedade, então essa meta é não só viável como absolutamente urgente e necessária para impedir que o Brasil se transforme num imenso e trágico Titanic social.
Se houver uma decisão de apostar no papel econômico e social da pequena empresa, se houver investimentos, linhas de crédito, legislação adequada, parcerias firmes entre poder público e pequenas empresas, não há dúvida de que uma nova onda de emprego, de trabalho, vai surgir da iniciativa, da criatividade que as pequenas empresas são capazes de apresentar.
Infelizmente, as grandes empresas são ainda prisioneiras de uma armadilha tecnológica que as faz absolutamente modernas e totalmente vazias de gente. A meta da empresa moderna é produzir sem gente. Ainda há tempo para mudar.
Todos têm um papel a desempenhar. As universidades devem repensar a relação entre tecnologia e emprego, atuando nas linhas de frente junto à sociedade. As pequenas e microempresas precisam apostar na sua capacidade de gerar uma outra economia e uma sociedade mais democrática.
Os governos estaduais podem contribuir gerando condições especiais para o desenvolvimento dessas políticas; as prefeituras, apostando nas obras e métodos que gerem empregos, fazendo parcerias com os agentes locais, inventando e apoiando tudo aquilo que gere novas ocupações, revendo o uso de seus orçamentos.
As ONGs precisam continuar seu trabalho de repensar e elaborar projetos para um desenvolvimento humano; os comitês de ação da cidadania devem colocar a questão do emprego na agenda política do país e –por que não?– gerar eles mesmos novas ocupações por formas criativas.
E, finalmente, o governo federal deve apostar efetivamente num novo desenvolvimento que comece pelo emprego e termine em emprego para todas as pessoas que querem, necessitam e têm o direito de exercer sua cidadania através do trabalho.
Comida contra a fome. Trabalho contra a miséria. Esse é o caminho que queremos trilhar. Chegaremos lá.

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