São Paulo, sábado, 11 de junho de 1994
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É possível implementar uma política de emprego no Brasil?

Pela valorização da pessoa humana

DOROTHEA WERNECK
EM TERMOS

A questão do emprego voltou a ocupar espaço tanto na agenda nacional como na internacional. Não é por acaso...
O desemprego nos países de Primeiro Mundo, a violência entre os jovens norte-americanos, o maior consumo de drogas e tantos outros males das sociedades urbanas modernas forçaram os países a incluir na agenda da ONU (Organização das Nações Unidas) e da reunião do G-7 (grupo dos sete países mais ricos) o desemprego, a pobreza e a integração social.
No caso do Brasil, a situação de miséria e de marginalidade de grande parte da população torna o problema ainda mais sério e complexo.
Certamente, a retomada do crescimento a partir de um maior volume de investimentos permitiria a geração de novos empregos.
Dar prioridade aos gastos públicos de acordo com a sua capacidade de gerar empregos –principalmente se esta for a orientação dada nos três níveis de governo (União, Estados e municípios)– com certeza ajudaria a resolver o problema.
Apoiar a micro e pequena empresa, reduzir a jornada de trabalho, fomentar a agricultura, diminuir os encargos sociais, todas essas são medidas conhecidas e encontradas em qualquer manual que trate de "política de emprego". Essas medidas são necessárias, mas insuficientes.
Crescer para criar cerca de 8 milhões de empregos no Brasil (ou 35 milhões na Europa) exigiria do setor privado e do setor público muito mais do que se pode esperar.
O emprego público, especialmente nos municípios, foi de fato o maior programa de seguro-desemprego que este país já teve. Mas isso aconteceu até a década de 70.
Hoje não se conhece quem defenda a tese de aumentar ainda mais os gastos com pessoal, em nenhum dos níveis de governo. O setor privado, sem nunca ter sido movido pela função social de gerar empregos, enfrenta cada vez mais os desafios da competitividade que, como se sabe, têm significado produzir mais com o mesmo número de pessoas se as vendas estiverem crescendo o suficiente (caso contrário, a tendência tem sido demitir).
Se a solução não está no setor público nem no setor privado, onde encontrar empregos para todos? As propostas tradicionais de políticas de emprego não conseguem responder essa questão. A resposta deverá ser buscada em um novo paradigma.
Será que as pessoas querem ou precisam mesmo de um emprego produtivo, com carteira de trabalho assinada? Ou será que o mais importante não seria ter uma oportunidade para se realizar como pessoa humana em atividades que também deveriam ser consideradas produtivas, como a música, os esportes, a pintura, o cinema, a fotografia, a dança e o trabalho doméstico?
Continuar pensando a política de emprego como sempre foi feito –na indústria, no comércio, na prestação de serviços e na agricultura– não levará à solução do problema.
É preciso valorizar todas as atividades humanas e encontrar formas para seu financiamento, respeitando os indivíduos não em função da sua renda ou de onde eles trabalham, mas sim pela contribuição que fazem à sociedade e pela sua capacidade de se realizarem como pessoas humanas.

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