São Paulo, sábado, 11 de junho de 1994
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A coerência de FHC; O candidato ideal; Honestidade em questão; Copa na TV; Guerra em Ruanda; A "canalha"

A coerência de FHC
"Lendo o artigo 'A coerência de Fernando Henrique', de Eunice Ribeiro Durham, publicado ontem em Tendências/Debates, gostaria de levantar algumas questões. Quero lembrar à professora da USP que sua interpretação sobre a transição democrática na década de 80 não é a única possível. Outra leitura é a de que a aliança arquitetada `entre outros, por Ulysses Guimarães e Tancredo Neves' tinha por objetivo a exclusão das forças populares mais agressivas do processo de reconstrução do Estado de Direito. De qualquer maneira, a luta de FHC contra regimes anteriores não impede, automaticamente, que suas atitudes atuais sejam interpretadas como adesismo –pelo contrário! Até porque a própria autora sugere ser a atual aliança herdeira daquela realizada entre o PFL e o então MDB. Concordo com a autora: não há incoerência. Os mesmos setores de discurso liberal buscam socorro junto aos mesmos grupos conservadores para impedir que `a horda de bárbaros', o partido mais identificado com os movimentos populares organizados, alcance o controle do Estado."
James William Goodwin Júnior (Belo Horizonte, MG)
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"Quero mais uma vez, cumprimentar esta Folha pela oportunidade de assistir à exposição de idéias sobre os candidatos à Presidência, suas propostas, passado político etc., na coluna Tendências/Debates. Eunice Durham expôs de forma clara, objetiva e em cima de fatos quem é FHC. Para mim, está claro que o artigo de Rogério Cerqueira Leite de 08/06 é tendencioso, mentiroso e não deve ser levado a sério."
Floriano Pesaro (São Paulo, SP)
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"O que os petistas não têm em casa é um bom espelho. O Lula é o estadista em Wall Street, o povão no Nordeste, o que vai tirar a poeira das cidades-satélite de Brasília, o que abençoará casamento homossexual, dará um prato de comida a cada um que tiver fome. Haverá maior `adaptabilidade' do que esta? Só perde para camaleão."
Susana Menda (São Paulo, SP)

O candidato ideal
"Eureka! Eureka! Pois não é que eu –cá da esquerda– vou dar uma bela duma ajuda à turma lá da direita, sim, a da minoria esmagadora? Pois é, gente: descobri pela leitura desta Folha (30/05), em sua `coluna do meio' (pág. 1-2), que lá está o candidato ideal pela tal de terceira via –sim, o atual jornalista Carlos Josias Heitor de Souza Cony! É, claro, amigo leitor, que o homem ideal para tomar o leme deste barco que está mais `pra' lá do que `pra' cá, coitado, o SS Brazil, é um atual jornalista, profissão a mais bacana de todas, tanto que um representante da fauna, agindo sempre como ombudsman da honra, da dignidade, da capacidade (alheia, alheia) torna-se a exceção única, absolutamente única, para presidir esta joça. Quanto ao resto dos candidatos, eles são –só– o resto. Lixo com eles! Puxa vida! E pensar que no meu tempo de jovem –já estou nos 70– meu sonho dourado era ser jornalista. Vai ver que era porque eu sabia: cedo ou tarde, um ex-foca iria restaurar o dogma da infalibilidade, não? Não era isto que `quirias', Josias? Putzgrila! Saco! Bleargh!"
Carlito Maia (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Josias de Souza – Agradeço comovido o lançamento do meu nome à Presidência da República. Considero-me, porém, um rematado foca, um jovem inexpressivo –sou 38 anos mais jovem que meu inesperado admirador. Devo, portanto, liberá-lo para votar em outro candidato. Melhor: sugiro que ponha a própria experiência a serviço da nação.

Honestidade em questão
"Muito preocupa a opinião do sr. Marcelo Beraba sobre a pesquisa publicada no último domingo, segundo a qual a honestidade não seria um motivo importante para o voto dos eleitores. Não parece contraditória tal análise quando uma pesquisa anterior do Datafolha (publicada na Folha em 04/07/93) mostrou que para 50% dos eleitores a `honestidade' é a maior virtude que o futuro presidente deve ter? Será que os 40% de eleitores com intenção de voto em Lula e os outros com 17% de intenção de voto em Fernando Henrique Cardoso não se importam mais com a honestidade? Certamente não se trata disso. Se é instigante que os eleitores dos candidatos líderes das pesquisas não se lembram em primeiro lugar da honestidade, não seria porque, para estas pessoas, este seja na verdade um `pressuposto de seu voto' que previamente seleciona cada um dos candidatos em disputa?"
Maria Teresa Gonzaga Alves, (Campinas, SP)

Resposta do jornalista Marcelo Beraba – Não escrevi que a honestidade (dos candidatos) não seria um motivo importante para o voto dos eleitores. Escrevi que a honestidade e a experiência não estão entre as principais razões alegadas pela maioria dos eleitores que declararam a intenção de voto em Lula, mas, sim, a idéia de que ele pode acabar com o apartheid social, a concentração de renda e a recessão.

Copa na TV
"Nós brasileiros, somente de quatro em quatro anos temos as emoções da Copa do Mundo, quando conseguimos esquecer momentaneamente os problemas sociais, econômicos, CPIs e corrupções do nosso país. No entanto, a partir das transmissões dos últimos amistosos da nossa seleção, temos tido o desprazer das péssimas qualidades das tomadas de imagens. Será que a história de um povo, o brilho do nosso futebol e a torcida de uma nação poderão ser superados por interesses de grupos que querem selecionar imagens para ocultar placas de publicidade?"
Ivan Alves da Cunha Corrêa (São Paulo, SP)

Guerra em Ruanda
"Tenho acompanhado o conflito entre as etnias Tutsi e Hutu em Ruanda. A Folha há alguns dias publica o número de mortos em 500 mil, o que não acredito ser verdade, pois a cada dia morrem mais pessoas e, consequentemente, este número cresce a cada minuto... Uma coisa inacreditável é que só agora Ruanda recebe alguma ajuda: a da Itália. Por que não ocorre intervenção por parte de algum país? O único motivo que consigo enxergar é o de que não há nada interessante em Ruanda que possa aguçar a cobiça ou compensar este `sacrifício' dos ditos países de Primeiro Mundo."
Caren Ambrosi (São Paulo, SP)

Nota da Redação – O número de mortos na guerra em Ruanda publicado pela Folha (500 mil) é uma estimativa de agências de ajuda humanitária, calculada a partir de massacres na capital.

A 'canalha'
"Por respeito a esse prestigioso jornal e a seus leitores, quero dizer ao sr. Roberto S. Caiuby Novaes, que cita meu nome em carta ontem publicada, que os velhos aristocratas, escravocratas e exploradores do povo costumavam designar por `canalha' a multidão que saía às ruas para lutar por seus direitos. Estar ao lado do povo em suas justas reivindicações não é, pois, pejorativo e, assim, ele perde seu tempo –e o dos leitores– usando-o. Se ele duvidar de meu empenho como deputado, posso encaminhar-lhe relato minucioso das centenas de projetos, indicações, moções, requerimentos, além de trabalhos nas áreas de ecologia e meio ambiente, saúde e educação que apresento no interesse do nosso povo."
Afanasio Jazadji, líder do PFL-SP (São Paulo, SP)

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