São Paulo, domingo, 12 de junho de 1994
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Egberto montou várias campanhas simultâneas

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO; TALES FARIA; ANDREW GREENLEES; XICO SÁ
EDITOR DO PAINEL

Quando, há uma semana, veio a público a negociação sigilosa de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) com Egberto Baptista, um dos símbolos da era Collor, a maioria dos tucanos não entendeu por que o candidato se arriscou tanto por um simples projeto de campanha.
O que estava sendo negociado, entretanto, era o mais bem guardado segredo da sucessão presidencial de 89: a estrutura de campanha que permitiu a Fernando Collor deixar de ser o governador de um Estado (Alagoas) que representa pouco mais de 1% do colégio eleitoral do país e virar presidente da República.
Muito mais do que o know-how de uma pessoa, o valor em jogo estava nos documentos originais da campanha collorida. Todos eles estão arquivados na sede da Agência E – Estratégia e Inteligência, o pomposo nome da empresa de Egberto Baptista em São Paulo.
São centenas de mapas com rotas de campanha, listas com milhares de nomes e endereços de cabos-eleitorais, endereços e telefones de quase todos os jornais e rádios do país, levantamento de todas as gráficas capacitadas a imprimir material de campanha, entre muitas outras informações.
FHC foi o último dos candidatos a tomar conhecimento do projeto de Egberto. Antes dele, vários outros pretendentes ao Planalto tiveram acesso a um esboço do projeto, ainda no ano passado.
José Sarney, por exemplo, chegou a discutir pessoalmente a proposta no começo deste ano. Só não a levou adiante porque não conseguiu se candidatar pelo PMDB.
O projeto mostra o esquema não de uma campanha, mas de várias simultâneas. Ao contrário da maioria das candidaturas em 89, a de Collor tinha suas principais ações eleitorais à margem das movimentações do candidato.
Por exemplo: as caravanas que buscavam apoio da sociedade não-organizada (42 kombis que percorreram 3.204 municípios com menos de 50 mil habitantes), a cooptação de apoios na sociedade organizada (políticos, professores, maçons, sindicalistas, entre outros), a logística (suprimento de material de campanha para todos os pontos do país no mais curto espaço de tempo) e a irradiação de notícias favoráveis a Collor através de um agência de notícias "independente" da campanha.
O projeto de Egberto sofreu várias críticas. A principal liga-se à sua imagem pessoal. Ele nega, mas é apontado como o responsável pelo episódio Míriam Cordeiro em 89 –quando a ex-namorada de Lula foi levada pelos colloridos à TV para dizer que o petista havia pedido que ela abortasse quando ambos eram namorados.
Outra crítica refere-se ao custo do projeto. Um dos coordenadores da campanha do PSDB, Sérgio Motta diz: "O Egberto só sabe trabalhar com muito dinheiro. Assim, qualquer um é bom. Ele nos disse que no final da campanha de Collor estavam gastando US$ 1 milhão por dia".
Egberto diz ser impossível calcular o custo total de uma campanha presidencial. Mas tenta se defender: "Se você pegar o orçamento oficial da campanha do Fernando Henrique, verá que, dividido pelo número de dias que faltam para a eleição, dará um gasto médio de US$ 500 mil por dia. Como na reta final o gasto é muito maior do que no começo, o resultado é quase igual ao da campanha de Collor".

Colaboraram TALES FARIA, da Sucursal de Brasília, ANDREW GREENLEES, do Painel, e XICO SÁ, da Reportagem Local.

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