São Paulo, domingo, 12 de junho de 1994
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Cingapura dirige o Estado como empresa

JAIME SPITZCOVSKY
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM SÃO PAULO

O Estado dirigido como uma empresa e que estimule a iniciativa privada são dois dos ingredientes que Cingapura usou para se transformar num }tigre asiático. Ou seja, ganhar uma economia industrializada e competitiva, opina Jadiel Ferreira de Oliveira, o embaixador brasileiro naquele país.
}É a experiência mais interessante em organização política e social que eu já vi, observa Oliveira, um diplomata que já trabalhou em 13 países.
Ele destaca que Cingapura mistura conquistas na área social com economia aberta ao capital estrangeiro, numa espécie de }comunismo de capital aberto.
Mas o país também ganhou fama pelo rigor de suas leis. Em maio, o norte-americano Michael Fay, 19, levou quatro chibatadas por ter pichado carros.
O idealizador desse }milagre cingapuriano se chama Lee Kuan Yew, 70. Governou o país desde a independência, em 1965, até 1990. Mas o seu Partido da Ação Popular segue no poder e o }ex-timoneiro ainda influencia os rumos de um governo que mantém a imprensa sob controle estatal.

Folha - Como é o modelo sócio-econômico de Cingapura?
Jadiel Ferreira de Oliveira - Cingapura investiu no homem e deu ênfase à educação. Cingapura estimula a produção de talentos e atrai talentos do mundo inteiro.
Também abriu a economia ao capital internacional, já que não tinha capital próprio, e o Estado assumiu a tarefa de promover o desenvolvimento. Resumindo, eu destacaria abertura ao capital internacional e a valorização do capital humano.
Folha - Até que ponto o Estado intervém na economia?
Oliveira - Na Ásia, existe o princípio de que você não deve incomodar ninguém. Estimula-se que as pessoas sejam auto-suficientes.
Em Cingapura ninguém depende do Estado e o Estado não quer que ninguém dependa dele. O Estado é um facilitador da atividade econômica, busca não atravancar.
E onde ele interfere, é para facilitar ainda mais. Não é um um Estado regulador, mas um Estado desenvolvimentista.
Em Cingapura, o Estado cria condições para que a iniciativa privada prospere, crie empregos e o próprio Estado se administra como se fosse uma empresa.
Folha - Com os conceitos tradicionais de sistemas econômicos e políticos, como o sr. definiria Cingapura?
Oliveira - Cingapura desafia rótulos. É a experiência mais interessante em organização política e social que eu já vi.
Lançaram um modelo novo: o }comunismo de capital aberto. Mas a idéia é colocar o menor número possível de penduricalhos no Estado, fazê-lo o mais enxuto possível, uma empresa de verdade.
Cingapura conseguiu resultados que os países comunistas não conseguiram na área social, com um Estado forte, uma economia absolutamente aberta e na qual 80% da população têm casa própria.
Folha - Então é um }paraíso social?
Oliveira - É um país com poucos problemas sociais. Não existe paraíso na Terra. Alguma criminalidade existe, apesar do rigor da lei. Leis que são cumpridas. Tráfico de drogas pode levar à forca. Mas eles conseguiram em 28 anos passar de US$ 500 de renda per capita para quase US$ 16 mil.

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