São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Decisão sobre juro fica para depois do real

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A decisão sobre a política de juros com a criação do real está adiada. A orientação na equipe econômica é de evitar declarações sobre o futuro das taxas, para que não haja novos atritos com o presidente Itamar Franco.
Itamar está novamente decidido a cobrar redução dos juros –e o ministro da Fazenda, Rubens Ricupero, não quer ver sua equipe desgastada ao defender a necessidade de taxas altas, como as praticadas agora.
A Fazenda prefere aguardar os resultados do Plano Real para voltar a discutir abertamente o problema dos juros. Se a inflação cair de fato, será mais fácil o diálogo com Itamar.
Ricupero acredita que se a inflação mostrar uma tendência de queda, nos meses seguintes à criação do real, os juros praticados pelo Banco Central podem cair até o final do ano.
Outros adiamentos
Também devem ficar para depois do real outras decisões, como a redução dos impostos para a poupança, a futura desvalorização do real em relação ao dólar e a adoção de medidas para conter o consumo.
Tudo isso vai depender do comportamento da inflação após o real, o que ainda é uma incógnita. A expectativa é que os preços subam mais em julho que nos meses seguintes.
"Não se espantem com alguns índices (de inflação) divulgados em julho", disse o ministro Rubens Ricupero a uma platéia de empresários em Aracaju (SE), no último sábado.
O ministro não quer criar uma expectativa de inflação zero, ou próxima disso, no primeiro mês do real. "Não mataremos o tigre com um tiro só", disse, parafraseando promessa do ex-presidente Fernando Collor.
Apesar de pretender fazer um expurgo nos índices de inflação, a equipe econômica acha que haverá, de qualquer forma, um repasse da inflação em cruzeiros reais ao preços de julho em reais.
Para os técnicos, a sociedade está condicionada a corrigir preços e salários. Isso deverá acontecer mesmo em casos de perdas pequenas, de 2% por exemplo.
Clima político
Ricupero também teme a influência das eleições sobre o plano, por ser outro fator fora do controle do Ministério da Fazenda. O clima político também condicionará a adoção ou não de medidas mais fortes para conter a alta dos preços.
Medidas anticonsumo, por exemplo, só em último caso. Técnicos da Fazenda avaliam, de forma reservada, que o consumo já será inibido pelas recentes remarcações de preços condenadas pelo presidente Itamar.
A redução de impostos para a poupança, embora conte com a simpatia do Palácio do Planalto, enfrenta resistências na Receita Federal. Q queda na arrecadação poria em risco a meta de manter os gastos públicos abaixo das receitas.

Texto Anterior: Escola particular pode parar contra medida
Próximo Texto: FHC prevê fim do IPMF com o real
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.