São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 1994
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Furto de carro ameaça balanços

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

A partir desta semana, proprietários de automóveis de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília serão bombardeados com algumas estatísticas alarmantes.
A cada ano são furtados ou roubados mais de 200 mil veículos no país. Do total, 15 mil são exportados para países vizinhos.
O restante segue para desmanches clandestinos, que vendem as peças para comerciantes.
Os consumidores serão ainda informados que a prosperidade da indústria do roubo é obra de gangues organizadas, aliada à suposta "incompetência", "omissão" e até "conivência" das autoridades.
A agressiva campanha publicitária, cujo objetivo declarado é cobrar dos governantes e da polícia uma reação frente à disparada de roubos, é patrocinada pela Fenaseg, a federação que representa as cem seguradoras do país.
Na disputa pelo principal nicho do mercado (apólices de veículos corresponderam a 34% dos US$ 6 bilhões de prêmios arrecadados em 1993), o setor não se unia desde 1990, quando veiculou merchandising na novela Tieta.
Em São Paulo, companhias seguradoras ajudarão a reequipar a Divecar, cedendo à divisão policial especializada em furtos 51 veículos resgatados de furtos, segundo o secretário de Segurança Odyr Porto.
O que motiva a Fenaseg a investir US$ 1,85 milhão para difundir suas mensagens de alerta, primeiro na mídia impressa, spots de rádio e outdoor e, após a Copa do Mundo, na TV, são os balanços de suas associadas.
"Se nada for feito, os resultados serão desastrosos", afirma José Carlos Moraes Abreu Filho, diretor da Itaú Seguros, que ocupa a quarta posição no ranking da Fenaseg.
Segundo um estudo da consultoria Arthur Andersen, a relação entre a taxa de sinistros e os prêmios retidos saltou de 48% em 1991 para 60% no ano passado.
Isso significa que, de cada CR$ 1 milhão arrecadado pela seguradora, CR$ 600 mil são consumidos por indenizações devidas aos clientes, comissões e despesas administrativas.
"Esse índice é inferior a 50% em outros países", diz Sebastião Nogueira, sócio-diretor da Arthur Andersen, encarregada de traçar um diagnóstico do setor.
Uma análise do balanço de 59 empresas –que representam 85% do volume de apólices– revelou que, no espaço de dois anos, a margem de lucro bruto (diferença entre despesas operacionais e arrecadação) declinou de 30% para 16%.
"Em 1993, a rentabilidade das instituições foi muito baixa e os balanços só não foram negativos graças à receita financeira", afirma Nogueira.
"Há risco para a solvência", diz o empresário Cláudio Afif Domingos, presidente do sindicato paulista das seguradoras e um dos pilotos de um plano setorial.
"Operacionalmente, muitas trabalham em zona cinzenta e perigosa", confirma Nogueira, que atribui à elevada taxa de insegurança reinante nas metrópoles o preço médio –US$ 500– da apólice de seguro.
No início da década, segundo Domingos, a mesma apólice custava ainda mais: cerca de US$ 800. Foi sendo reduzida devido a uma guerra de preços que muitos no setor qualificam de autofágica.
"O preço das autopeças cresceu de forma absurda", queixa-se Domingos. Na ponta das revendedoras de veículos, as seguradoras são acusadas de aviltar o valor da mão-de-obra.
A Associação dos Concessionários Fiat (Abracaf) argumenta que as seguradoras, além de oferecerem apenas um quinto do valor de mercado, passaram a exigir descontos entre 20% e 25% sobre peças originais e facilidades de pagamento.

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