São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 1994 |
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'É minha vida, mas seleção nunca mais', diz Hortência
EDGARD ALVES
"Parei. Acabou. Seleção nunca mais. É boa hora. Tenho 34 anos, paro como campeã mundial e escolhida para a seleção do campeonato", afirmou. A cestinha (anotou 221 pontos, média de 27,6 por jogo) deixa a seleção, mas não o basquete. Vai continuar jogando pela Nossa Caixa-Ponte Preta, de Campinas (SP). A seleção deve perder também a armadora Paula, 32, que chegou à seleção no mesmo momento de Hortência, em meados de 1976. Em 1977, a dupla atuou na primeira competição oficial e terminou em segundo no Sul-Americano de Lima, vencido pelo Peru. Hortência falou à Folha, por telefone, ontem, sobre os seus últimos momentos na seleção. Folha - Essa decisão de sair da seleção não tem volta? Hortência de Fátima Marcari Oliva - É definitiva. Vou jogar em clube até quando der. Aí, a posição ainda não amadureceu. Não usar mais a camiseta nº 4 da seleção já é uma decisão difícil, depois de 17 anos. O basquete é minha vida, o que mais gosto de fazer. Seria uma emoção muito forte parar de vez, também em clube. Folha - A emoção da conquista do Mundial é muito forte? Hortência - Parece sonho. Eu sempre acreditei que poderíamos chegar lá. Gozado é que não estou acreditando que chegamos. Saímos desacreditadas do Brasil. Não se dava um tostão pra gente. Na Austrália, a bolsa de apostas nos colocava em oitavo. As preferidas eram EUA, Austrália e China. Revertemos tudo. Folha - Em algum momento, você temeu pela eliminação? Hortência - Nunca penso isso. Sempre achei a competição difícil. Tenho comigo a idéia de que ninguém ganha jogo antes de entrar na quadra, como parece ter acontecido aqui com outros times. Folha - Como aconteceu essa reação do time brasileiro? Hortência - Éramos o `pato feio' do campeonato. Chegamos sem cobrança, sem pressão. Jogamos com humildade. Todas as jogadoras fizeram o que sabem. Folha - As novatas reagiram dentro do que se esperava? Hortência - Eu, a Paula e a Janeth funcionamos como termômetro. Quando estamos calmas, passamos tranquilidade para as novatas. A tensão maior é da gente, o trio sempre tem mais responsabilidade e é mais cobrado. Mas todas as novatas atuaram muito bem. Folha - Houve entrosamento entre as experientes e as novatas? Hortência - Muito. Eu e a Paula pedimos que elas nos ajudassem a vencer, seria um presente para nós. Elas nos deram esse presente. Em contrapartida, nós retribuímos com outro presente: ajudamos a classificar o time para a Olimpíada de Atlanta-96. Folha - O tempo de treinamento do Brasil foi o ideal? Hortência - Dois meses, o tempo exato. Não é preciso mais. Importante foi a vinda antecipada, cerca de dez dias, para adaptação ao fuso horário (diferença de 13h). Outra coisa fundamental foram os amistosos contra Cuba, no Brasil. Folha - Qual foi a principal momento do time? Hortência - A vitória contra Cuba, que já sabíamos como jogava. Ganhamos de 20 pontos. Deu muita força. Folha - Qual a virtude do time que merece destaque? Hortência - O entrosamento, a união das jogadoras. Todas jogaram do jeito que deveriam jogar e todas se respeitaram. A humildade do técnico foi outro ponto importante. Ele entendeu que nós sabíamos o que estávamos fazendo. A liberdade foi super-importante. Folha - Como está seu relacionamento com a Paula? Hortência - Uma torceu pela outra. Jogamos juntas na seleção há 17 anos. Vivemos um momento especial. Folha - A medalha é bonita? Hortência - É linda. Tem o símbolo do campeonato, uma bola de basquete. Quando a recebi, pensei no Ayrton Senna. Nós também somos campeãs do mundo. Chegou a nossa vez e o basquete é jogado no mundo todo. Folha - Sem seleção, o projeto de ter filho amadurece? Hortência - O meu marido (José Victor Oliva) me falou disse por telefone, após a vitória. Disse que converso depois. Não quero parar totalmente com o basquete. É um golpe de muita emoção. Texto Anterior: CORÉIA DO SUL; BOLÍVIA Próximo Texto: Casca de amendoim é bola pra Romário Índice |
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