São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 1994
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Bonnie Raitt desafia os cânones do blues com novas colorações

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Bonnie Raitt acaba de lançar "Longing in Their Hearts". Seu 12º álbum já chega à praça como um dos favoritos ao prêmio Grammy, o Oscar da música.
Há 23 anos no mercado, Bonnie Raitt tem voz rouca de "bourbon", toca "bottlenecks" (dedeiras de aço) como ninguém e já faturou uma meia dúzia de Grammys.
Comanda a Rhythm and Blues Foundation (nos EUA), com mãos de ferro –sempre buscando, via instituição, novos gênios para lançar no mercado. Às vezes, ela desiste da caça e compõe. Sempre sopra-lhe o gênio.
Seu retorno ao mercado representa uma cisão quase intolerável aos cânones do blues. Por quê? Porque Bonnie Raitt torrou os últimos anos tentando redesenhar os arranjos desgastados do gênero. Nesse disco, imperdível para quem gosta de blues, Raitt exibe a verdade mais limpa: a de que os blues estão caquéticos e cabe a ela mostrar novas colorações.
O novo disco abre com "Love Sneakin up on You". Aqui Raitt apresenta arranjos jamais ouvidos no ramerrão clássico dos blues, numa faixa em que mistura sua guitarra com baixos arranjados em multiprocessadores "midi" –um timbre dos diabos.
Em "Longing in Their Hearts", ela nos traz uma afinação em desuso, as "Nashville tunnings", usando apenas as cordas agudas do violão de doze cordas. "Feeling of Falling" é uma composição fora dos centros tonais tradicionais.
Na faixa "Cool, Clear Water", ela faz uma junção esteticamente impossível, em que, acredite, mescla blues com guitarras de reggae. Em "Steal Your Heart Away" resgata frases da "new wave" e chega a lembrar Lloyd Cole and the Commotions.
Para fechar a obra, Bonnie Raitt convidou os melhores músicos do mercado: começa com David Crosby, passa pelo guitarrista Richard Thompson e ousa colocar o percussionista brasileiro Paulinho da Costa, na faixa "Circle Dance". Chamou também o compositor irlandês Paul Brady, que despeja arranjos inacreditáveis de um instrumento de sopro de sua terra, o "penny whistle".
Mas não se atenha às letras. Siga o esteta húngaro Gyorgy Lukács, dê valor à forma, e não ao conteúdo: porque Raitt compõe genialmente, mas escreve com a desenvoltura de um troglodita.

Disco: Longing in Their Hearts
Intérprete: Bonnie Raitt
Lançamento: Capitol/EMI
Quanto: 18 URVs (em média, o CD)

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