São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 1994
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Zé Celso lembra Cacilda Becker

Diretor inicia trilogia sobre a atriz

DA REPORTAGEM LOCAL

"Cacilda!", a primeira peça da trilogia escrita por Zé Celso Martinez Corrêa, sobre Cacilda Becker e o teatro brasileiro, vai ser encenada amanhã, às 21h, no teatro Oficina.
A apresentação, que lembra os 25 anos da morte da atriz, ocorrida em 14 de junho de 1969, inicia os trabalhos para a montagem do texto pela Cia. de Teatro Comum Uzyna Uzona, do Oficina.
O evento tem apoio da Folha, que estará distribuindo ingressos –dois por pessoa– a partir de amanhã, às 9h, na portaria do jornal (al. Barão de Limeira, 425, Campos Elíseos, região central).
Zé Celso, que só recebeu alta do Hospital do Coração na semana passada, passou a direção para Marcelo Drummond. O ator fez Hamlet na montagem que reabriu o teatro Oficina, no ano passado.
"Não vai ser bem uma leitura", diz Drummond, 31. "Está mais para um rito. Um rito de abertura dos trabalhos de `Cacilda!'." Para a celebração, foi criado um roteiro com cenas da peça.
Um rito de renascimento do teatro, explica Drummond. A vida de Cacilda Becker, que morreu poucos meses depois de entrar em coma, no palco, no intervalo de uma apresentação de "Esperando Godot", é tomada como ponto de partida "para deixar de esperar Godot".
Com a morte da atriz, ou pouco depois, acabou a chamada época de ouro do teatro nacional. O trabalho de companhias como Os Comediantes, o Teatro Brasileiro de Comédia, TBC, em que Cacilda foi a maior estrela, o Arena, finalmente o próprio Oficina, terminou.
A morte de Cacilda é tomada como rito de morte mas também e sobretudo de restauração. "É para despedaçar Godot", diz Drummond, falando do final de "Cacilda!", com a entrada do personagem que, na peça de Beckett, escrita na década de 50, nunca aparece.
"É um manifesto para todas as atrizes", acrescenta o ator-diretor. "É uma missa para elas, em nome da saída do coma. Uma missa para elas e para o teatro brasileiro." Para tanto, o elenco vai distribuir papéis com nomes de atrizes de hoje, para serem citados.
"Depois a gente vai queimar tudo", diz Marcelo Drummond. "É o fim do coma. Para acordar e acordar, no sentido de estar de acordo. Fazer um acordo, para o teatro acordar outra vez."
Convalescente, Zé Celso segue à distância. "Está dirigindo a minha direção", diz Drummond, com o que Zé Celso não concorda. "Ele diz que não é verdade, porque ele está sem energia."
Cacilda, na peça, será Alleyona Cavalli, 24. A atriz, que foi Ofélia em "Ham-let", diz que "o que importa não é relembrar a morte, mas trazer a Cacilda, viva, para este público".
Para a atriz, "a importância de fazer Cacilda é recuperar a grandeza que ela trazia para o artista de teatro. É para retomar a realeza do teatro. Terça-feira é o começo, de tudo."
Além de Alleyona como Cacilda e de Marcelo Drummond como o personagem Walmor Chagas, a apresentação terá Pascoal da Conceição, Leonardo Medeiros, Walney Costa e o elenco do Oficina, além de Reneé Guimmel, a atriz que trouxe a dança moderna ao país.
A cenografia e os figurinos estão sendo criados, num primeiro contato com o teatro Oficina, por Carla Caffé. A iluminação, como em vezes anteriores, será feita ao vivo por Cibele Forjaz.

Título: Cacilda!
Autor: Zé Celso Martinez Corrêa
Direção: Marcelo Drummond
Quando: Amanhã, às 21h
Onde: Teatro Oficina (r. Jaceguai, 520, Bela Vista, região central, tel. 011/34-0678)
Quanto: CR$ 9.000, na bilheteria do teatro. Ingressos gratuitos (dois por pessoa) poderão ser retirados a partir das 9h de amanhã, na portaria da Folha (al. Barão de Limeira, 425, Campos Elíseos, região central)

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