São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 1994
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Administração palestina luta contra miséria

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

O presidente da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), Iasser Arafat, luta há décadas para voltar à faixa de Gaza e Cisjordânia, ocupados por Israel desde o ano de 1967.
Em maio, ele passou a chefe administrativo da faixa de Gaza e da cidade de Jericó. O governo israelense já até pediu para ele apressar a instalação de sua administração na pacata cidade da Cisjordânia. Mas Arafat ainda não voltou. O motivo? Dinheiro.
Arafat sabe que a euforia nas recém-liberadas faixa de Gaza e Jericó não vai durar muito. Mesmo sem os soldados israelenses, Gaza continua sendo um dos lugares mais inóspitos do planeta, com lixo a céu aberto, favelas miseráveis, falta de qualquer infra-estrutura mínima.
Reverter este quadro é indispensável para o sucesso da administração palestina. Mas para isso Arafat precisa de US$ 2,4 bilhões prometidos pelos países desenvolvidos. O dinheiro já começou a entrar, mas a conta-gotas.
Os doadores internacionais temem liberar os fundos para um líder desacostumado a qualquer forma de prestação de contas.
À frente da OLP, Arafat criou uma imagem de centralizador e autoritário, usando o dinheiro da organização para conquistar aliados.
Quando ele quase morreu num acidente aéreo em 1992, temeu-se que o acesso a parte dos fundos da OLP iriam para o túmulo com ele.
Arafat disse em entrevista à TV norte-americana que poderia não visitar Jericó este mês, como estava previsto, se o dinheiro não começasse a entrar.
O chanceler israelense, Shimon Peres, reagiu pedindo que Arafat apressasse sua viagem para dar continuidade ao incerto cronograma da paz.
A tática de Arafat, porém, já rendeu frutos. Em reunião de doadores internacionais durante a semana em Paris, o Banco Mundial anunciou a liberação imediata de US$ 42 milhões para os palestinos.
Arafat disse que a OLP precisa de US$ 120 milhões imediatamente e mais cerca de US$ 30 milhões por mês para pagar e administrar os serviços civis e hospitalares, escolas e polícia.
Enquanto isso, Jericó toma providências para receber o líder da OLP. Duas casas estão sendo preparadas para abrigar Arafat. Uma limusine já está à sua disposição. O único hotel da cidade se transformou num centro de imprensa.
Até os telhados e varandas de Jericó estão sendo disputados por equipes de TV dispostas a obter um bom ângulo para transmitir a festa quando Arafat chegar.
O preço do telhado para o dia 15 próximo sai por cerca de US$ 3.000. Esta era a data mais apostada para a volta de Arafat. Mas a rádio Israel (estatal) disse que a polícia israelense estava se preparando para a chegada em 15 de julho.
}Se ele não vier na semana que vem, terá que competir com a Copa do Mundo, então seria melhor adiar por um mês, disse em Jericó Bruno Nota, produtor da ABC.
Por via das dúvidas, a emissora de televisão norte-americana já tem instalada uma estrutura na cidade para a trasmissão direta da chegada de Arafat.

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