São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 1994
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O banal e a mídia

O senador Guilherme Palmeira (PFL-AL), candidato à Vice-Presidência na chapa encabeçada por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), explicitou em um artigo na Folha na semana passada um sentimento até então velado, mas muito presente em todos os QGs da campanha presidencial. Para Palmeira, há uma "conspiração", que ele atibui à mídia em geral, para "banalizar" a campanha eleitoral.
O primeiro ponto a discutir é o conceito de banal. Para o PT e seu candidato, Luiz Inácio Lula da Silva, parece banal o fato de utilizar equipamento de um sindicato para fazer a sua campanha. Esse pressuposto foi imediatamente referendado por Fernando Henrique Cardoso.
É claro que não se trata do mais grave crime eleitoral que se cometeu na história da República do Brasil. Mas um crime é um crime, pequeno ou grande, e não pode ser tratado como questão banal.
Mais simples é admitir que a história do cavalo que Fernando Henrique montou no Nordeste reveste-se de características inequivocamente banais. Cenas do gênero ou até mais pitorescas ocorrem em campanhas eleitorais mundo afora.
A maior queixa que se ouve nos QGs partidários é a de que os jornalistas insistem, dia após dia, em perguntar sobre essas banalidades, supostas ou reais, como se fossem o principal fato da campanha.
A queixa é justa. Mas, ainda assim, vale uma ressalva: nada mais fácil, para um candidato, do que escapar da mesmice das perguntas. Se, ante a milésima pergunta sobre o jegue, Fernando Henrique respondesse com uma discussão aprofundada a respeito do real, por exemplo, dificilmente o noticiário do dia seguinte estaria centrado no jegue. O real ganharia.
A experiência desta Folha com o caderno "Brasil-95", que se propõe a discutir as grandes questões nacionais às vésperas do pleito, demonstra que a tentativa de "desbanalizar" a campanha esbarra, frequentemente, em uma omissão dos candidatos. Propostas eles até têm, e abudantes. Mas raramente dizem de onde sairá o dinheiro para transformá-las em realidade.
Não se pretende negar que está havendo uma certa banalização da campanha. Mas é importante distribuir adequadamente as responsabilidades. Parte da culpa é da mídia, sim, às vezes presa demais ao critério de que o inusitado, mesmo que apenas anedótico, é notícia.
Mas qualquer candidato cuja agenda fosse poderosa o bastante para abafar a banalização acabaria impondo-a, ainda que houvesse uma "conspiração" para transformar o acessório em principal.

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