São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 1994
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Ilusões perdidas

O vultoso crescimento dos depósitos em caderneta de poupança neste mês deve-se fundamentalmente à transferência de recursos de outras aplicações financeiras. Não se trata de um crescimento do nível geral de poupança, mas indica pelo menos uma razoável confiança de que não haverá mais uma "garfada" nas aplicações.
De fato, investir na caderneta significa manter os recursos no banco durante a troca de moedas, já que os depósitos efetuados em junho só poderão ser sacados após o 1º de julho, ou seja, já em reais.
A corrida à poupança traz consigo, entretanto, o risco de desilusão no futuro. À exceção de uma surpresa, o rendimento real das aplicações financeiras, aí incluída a caderneta de poupança, deve ser alto após a introdução da nova moeda. Seus valores nominais, porém, cairão drasticamente se a inflação despencar, como se espera.
Iludidos com aquela parte dos rendimentos que hoje apenas corrige a inflação –e que responde por quase 95% do total–, muitos poderão decepcionar-se com os menores valores nominais em um período de estabilidade da moeda. Caso isso ocorra, os depósitos excepcionais deste mês se transformarão em saques excepcionais nos primeiros meses de vigência do plano, provocando grandes desequilíbrios.
O mais imediato deles que pode ser previsto é a possibilidade de fuga para o consumo, que pressionaria os preços. O fim da ilusão monetária provocaria esse efeito de qualquer maneira, mas quanto maior for essa ilusão (gerada pelas altíssimas taxas inflacionárias e de correção monetária), maior deverá ser a decepção depois.

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