São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ministro ou cabo eleitoral

?

JOSIAS DE SOUZA

BRASÍLIA – Em condições normais, diria que é boa a idéia de Rubens Ricupero transformar-se em caixeiro viajante do Plano Real. Mas nesta fase eleitoral, é impossível deixar de considerar suspeita a movimentação do ministro.
Os roteiros de viagem de Ricupero e de Fernando Henrique, seu antecessor, têm se cruzado com uma frequência que desafia a coincidência. Por onde passa o ministro, o candidato já passou ou ainda passará.
A euforia com que alguns tucanos comemoram a proximidade entre as agendas do candidato e do ministro serve de estímulo às dúvidas. Já não se sabe se Ricupero é mercador do plano ou cabo eleitoral do candidato que se apresenta como seu autor.
Decerto se dirá que procuro cabelo em ovo. Mas insisto: podemos estar diante de um escandaloso exemplo de instrumentalização do governo em benefício de uma candidatura.
Vejamos o que aconteceu no último final de semana: Ricupero foi à Bahia no sábado. Antônio Carlos Magalhães desfilou com o ministro a tiracolo. Ontem, Fernando Henrique fez comício na mesma Bahia, ao lado do mesmo ACM.
Da Bahia, Ricupero seguiu para a mesma Aracaju (SE) em que Fernando Henrique pediu votos 15 dias antes. Aliás, no dia em que o candidato tucano esteve em Aracaju (27 de maio), Ricupero passou pelo Ceará, Estado onde Fernando Henrique havia iniciado sua campanha.
No final de maio, Ricupero separou alguns dias para vender o Plano Real em São Paulo. Pois Fernando Henrique reservou os primeiros dias de junho para intensificar sua campanha no interior de São Paulo. Há outras "coincidências". Ministro e candidato passaram, por exemplo, pelo Paraná.
Como disse no início, a idéia de um ministro itinerante não é de todo má. É até recomendável que o administrador público deixe Brasília de vez em quando para sentir o pulso do brasileiro do Estado, do município. Mas convém que o ministro desgrude sua agenda da programação do candidato. Não deve ser assim tão difícil. O Brasil é grande. Temos 8,5 milhões de quilômetros quadrados.

Texto Anterior: Tolerância
Próximo Texto: Deus seja louvado!
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.