São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 1994
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Estudantes dizem ter sido proibidos de assistir peça

RONI LIMA
DA SUCURSAL DO RIO

Estudantes dizem ter sido proibidos de assistir peça
Alunos do Colégio Militar do Rio de Janeiro disseram ter sido pressionados a não assistir à peça teatral "A Quarta Companhia", sob pena de suspensão por quatro dias.
A peça estreou na sexta-feira, no Teatro do Leblon, na zona sul do Rio, e conta a história real de um aluno que, há quatro anos, foi punido pelo colégio e se matou com um tiro na cabeça.
A direção do colégio negou ontem qualquer proibição aos alunos de assistirem à peça (veja texto ao lado).
Na noite de estréia, seis alunos compareceram fardados. No sábado, mais cinco foram fardados. Um deles comentou: "Será que alguém vai arrancar a gente daqui?".
Alunos fardados entram de graça. Os alunos que conversaram com a Folha, no sábado, estavam assustados.
Eles não quiseram dar declarações. Mayra Capovilla, 16, amiga de um deles, confirmou a ameaça. "Eles disseram que um tenente ameaçou quem fosse à peça com quatro dias de suspensão."
Uma das atrizes juvenis da peça, que não quis se identificar com medo de represálias, também afirmou que houve uma ameaça de punição.
Produzida e dirigida por Desmar Cardoso, 43, a peça mostra os problemas do aluno Netinho, pressionado psicologicamente pela mãe exigente e por um sistema educacional altamente repressor.
Netinho, representado pelo ator Vitor Hugo, é perseguido e tratado aos gritos por seu professor, o capitão Mauro (Élcio Romar). Os alunos presentes assistiram à peça demonstrando emoção.
A atriz principal, Jalusa Barcellos, que faz o papel de Magda, a mãe de Netinho, disse que no sábado teve dificuldades de interpretar, devido à reação de um dos estudantes.
"Me deu um destrambelho na cabeça. No palco os atores choravam e, na primeira fila, um menino também chorava agarrado com sua boina do colégio militar", afirmou.
O autor disse que não quis "crucificar o Exército e nem o colégio militar". Para Cardoso, está em cena uma discussão sobre o sistema repressor educacional e também familiar.
Em sua visão, não só a escola é culpada em casos semelhantes. "Os pais não conseguiram fazer o que queriam e tentam se realizar nos filhos, obrigando-os a fazer o que não querem."
Jalusa Barcellos critica "a rigidez dos padrões pedagógicos de certos educandários". Ela disse que a ameaça de punição deveria ser revista, pois "não gostaria de fazer outra peça desse tipo daqui a quatro anos".
Segundo Jalusa, a mãe de Netinho, Magda Rego Rodrigues, permitiu que o assunto fosse abordado na peça para que histórias semelhantes não se repetissem.

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