São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 1994
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Estripulias de um presidente torto

LUÍS NASSIF

Vamos falar francamente, já que o que está em jogo é a estabilidade do país.
O presidente da República, Itamar Franco, é uma pessoa sem equilíbrio.
Mais que isso: é uma pessoa sem discernimento, com uma enorme necessidade de se auto-afirmar em pequenas coisas, mesmo que às custas de grandes incêndios.
Não fosse o presidente da República, não tivesse o poder de interferir na vida de todos os cidadãos com suas incursões afobadas, mereceria tratamento piedoso. Seria tratado até como o amigo estranho, neurastênico, porém inofensivo.
Mas trata-se do presidente da República, o homem com acesso ao botão vermelho.
Pelo que foi dado ao país apreciar nesse período, o presidente é uma pessoa incapaz de avaliar situações comezinhas, nem ao menos as óbvias, como a reação do público em geral aos episódios grotescos do sambódromo.
O que de pior poderia acontecer com o país e com Itamar, neste momento, seria levá-lo a sério. Itamar é um errado em tempo integral.
Ocorre que, por estar cercado por um grupo de bajuladores, cada asneira sua é enaltecida como feito de homem de Estado. Com suas bajulações, seus amigos garantem seu próprio espaço no pequeno mundo de Itamar, mas ajudam a afundar o governo e seu protetor no mais profundo ridículo e a expor o país a uma instabilidade desnecessária.
Não há mais barreiras, seja de seu próprio superego, seja do círculo de auxiliares próximos, que defendam o Executivo das atitudes desvairadas do presidente –e isso precisa ser encarado seriamente pelas instituições, antes que sobrevenha uma tragédia maior.
Estudantes chapa branca
O que está ocorrendo com as mensalidades escolares é prova típica. Uma organização chapa-branca –a União Nacional dos Estudantes (UNE)– afaga o ego do presidente. E ele, sem capacidade de discernimento, aprova uma medida provisória que, se seguida ao pé da letra, inviabilizará as escolas privadas no país.
É uma medida tão estrambólica que, em país sério, custaria processo imediato contra o presidente, seu ministro da Educação e seu ministro da Justiça, por abuso de poder.
Essa enorme arbitrariedade é apenas prenúncio do que pode vir pela frente, num momento em que a implantação do plano econômico exige equilíbrio, serenidade e discernimento.
O limite que separa a excentricidade da tragédia é mínimo, quando se trata do presidente da República. Seria importante que os poderes constituídos se dessem conta disso e procurassem se antecipar a qualquer tragédia futura. Não se trata de pregar a ruptura institucional, mas de admitir uma realidade palpável: a Presidência da República está entregue a uma pessoa cujas atitudes denotam desequilíbrio. E não há como tapar o sol com a peneira.

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