São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 1994
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O "pop star" Bennett resiste a modismos

WILL FRIEDWALD
DO "VILAGE VOICE"

O 'pop star' Bennett resiste a modismos
O cantor, que faz show hoje em São Paulo, deve fazer uma ponta no novo filme do diretor Albert Brooks
Show: Tony Bennett
Quando: única apresentação hoje, às 22h
Onde: Olympia (r. Clélia, 1.517, Lapa, tels. 011/864-7333 e 252-6255)
Ingressos: CR$ 40 mil (setor C), CR$ 60 mil (setor B), CR$ 80 mil (setor A) e CR$ 120 mil (camarotes e setor VIP)

Tonny Bennett pode ter perdido os anos de ouro das grandes orquestras e dos musicais ao vivo no rádio, no entanto é o último pop star dos velhos tempos. Ele se se introduziu para a imortalidade internacional com "I Left My Heart in San Francisco" um pouco antes que esta porta se fechasse para todos, exceto para os artistas voltados para o "baby-boom", a geração do pós-guerra.
Sua supremacia, porém, não tem origem apenas num feliz acidente do destino, pois Bennett não foi mais adequado a nenhuma outra época do que o é para a nossa.
Ele desenvolveu sua arte à perfeição, alcançando uma síntese inigualável de tudo o que vale a pena na tradição jazz-pop, desde a extroversão dramática de Judy Garland até a intimidade intensa de Sinatra, a sensibilidade e o senso de humor de Armstrong e Durante, o talento cool de Miles Davis e o ritmo de Fred Astaire.
Bennett não incluiu "Luck Be a Lady" no álbum "Perfectly Frank", seu tributo de 1972 a Sinatra, mas a metáfora brincalhona dessa canção descreve perfeitamente a agitação que o cantor tem vivido na era Clinton.
No dia 2 de fevereiro, num concerto beneficente no Alice Tully Hall no Lincoln Center (não é à toa que seu apelido é "Tony Benefit" – Tony Benefício), Bennett foi ovacionado durante a hora e meia em que esteve no palco.
Aos 67 anos, ele tem interpretado menos canções com finais grandiosos ao estilo de Judy Garland (como "How Do You Keep the Music Playing?"), mas naquela noite encerrou o show com uma retumbante "Autumn Leaves", que ameaçou mergulhar Nova York na mesma situação de tremor vivida por Los Angeles e que certamente ainda ecoa pelo pátio de estacionamento do Lincoln Center.
O concerto vem na esteira de um prêmio Grammy mais do que merecido e Bennett tem sido visto ultimamente em todos os locais ligados à juventude. Na entrega da premiação da MTV Music Video Awards (uma contradição em termos) Bennett se apresentou com os Red Hot Chili Peppers.
Ele deve fazer uma ponta no próximo filme de Albert Brooks, "The Scout", e já gravou apresentação no MTV "Unplugged".
Bennett é imune aos modismos e cuida minuciosamente de suas criações, especialmente das gravações. Os dois sucessos orquestrais de safra relativamente recente –"The Art of Excellence" (1986) e "Astoria" (1990)– formam um mini-ciclo; seguindo-se a "Perfectly Frank" Bennett gravou "Stepping' Out" (Columbia), outra homenagem em pequena escala, extremamente pessoal, desta vez para Fred Astaire.
Esses dois álbuns têm a participação do pianista Ralph Sharon, diretor musical de Bennett há quase 40 anos.
Quando acompanhado por um trio de piano, baixo e bateria, em vez de sopro, palhetas e cordas, Bennett faz com Sharon um contraste particularmente engenhoso entrando no movimento e saindo dele suavemente; fazem da transição solo-coro o elemento de ligação das modulações métricas.
Mesmo as falhas de "Perfectly Frank" são instrutivas: "The Lady Is a Tramp" não funciona como deveria porque muito do encanto de Bennett vem do seu exagerado otimismo.
No álbum de Astaire, Bennett e Sharon imprimem às 20 canções um ritmo dançante. Como em "Perfectly Frank", interpretam muitos números em duo, variando entre danças rápidas e lentas sem nunca perder o ritmo.
No concerto do Lincoln Center –em que foi precedido por uma apresentação do efervescente trompetista Winton Marsalis e de seu pai, o balançante pianista Ellis Masalis– Bennett reprisou canções dos dois álbuns-tributos e muito mais, cobrindo quatro décadas de seus maiores sucessos.
Talvez Bennett e Marsalis tenham unido as performances individuais ao dedicarem o concerto a Louis Armstrong, especialmente na execução do blues "The Bucket's Got a Hole in It".
Quanto a Bennett, ninguém melhor do que ele irradia o calor humano e a luz interior de Armstrong e não apenas por encerrar o show ao estilo da Broadway com um retumbante "Oh, yeah!". Mesmo sem artifícios, o homem é a alegria personificada.

Tradução de Sonia Pimentel de Mello

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