São Paulo, terça-feira, 14 de junho de 1994
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Uma âncora para Itamar

O presidente Itamar tornou clara desde a sua posse uma atitude de crítica aberta à política de juros altos. Tal atitude ajudou a economia brasileira a sair da recessão provocada pelo Plano Collor em 1990.
Entretanto, o reaquecimento em 92 e 93 fez-se acompanhar de uma alta nas taxas inflacionárias. É a esses efeitos desastrosos do populismo que o presidente Itamar insiste em dar as costas, invariavelmente no pior momento, como agora.
Infelizmente não se pode fazer a omelete sem quebrar os ovos, diz o ditado. No caso da estabilização, tanto as experiências históricas de sucesso como as recomendações de manual (seja ele ortodoxo ou heterodoxo) são unânimes em alertar para os riscos de uma emissão irrefreada da nova moeda.
O controle sobre a emissão, entretanto, não é tarefa que se esgote numa fórmula conhecida. A verdade é que ninguém sabe a rigor qual a quantidade de moeda nova adequada quando se passa, da noite para o dia, de um regime superinflacionário para outro de baixíssima inflação. Simplesmente não se sabe.
O imediato pós-real, portanto, será no campo da política monetária um processo de aprendizado, de tentativa e erro. Nada pior, por isso, do que já começar errando, sinalizando antes do plano que o populismo talvez volte a ser prioridade na agenda econômica presidencial.
Nesse momento de transição o governo poderá se permitir muitas coisas (por exemplo, esperar para ver a intensidade do consumo antes de sufocar o crédito à demanda). Mas que não se permita, sob o risco de comprometer o plano econômico, sequer a hipótese de criar entre os aplicadores (indivíduos e empresas) a sensação de que o governo não tem o empenho máximo em dar à nova moeda a devida proteção contra a inflação.
Juros abaixo da inflação levariam a uma fuga rumo ao dólar, abalando a taxa de câmbio, ou seja, a própria "âncora" da estabilização. Antes que seja tarde, que se lance uma âncora para Itamar.

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