São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Hoje, as moedas são desprezadas

Consumidores preferem as cédulas

FILOMENA SAYÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

O brasileiro despreza as moedas. Desvalorizadas pela inflação, elas valem pouco. Recebidas em trocos, costumam ir parar no fundo de bolsas ou em algum copo em casa ou no escritório.
Mas com a chegada do real, tudo vai mudar. Como elas irão valer mesmo, o consumidor terá que se acostumar a usar as moedas com frequência.
"Usar moeda é uma questão de auto-estima, de identidade nacional", diz Pedro Paulo Sena Madureira, vice-presidente da Fundação Bienal e editor.
Ele costuma pagar cigarros, entre outros produtos de baixo valor, com as moedas que carrega em uma moedeira.
"Acho uma falta de respeito desprezá-las. Isso é sinal de subdesenvolvimento", afirma. Mas parece que Pedro Paulo Sena Madureira é uma exceção. A maioria não usa mesmo as moedas no seu cotidiano.
Terezinha Leite Pereira Santos, 39, proprietária da grife de roupa feminina Patachou, de Minas Gerais, admite suas dificuldades em lidar com elas.
"Nem sei os valores que elas estampam. Costumo deixá-las na bolsa e as dou nas ruas, para quem me pede alguma coisa."
Roberto Duailibi, 57, um dos sócios da DPZ, uma das maiores agências de publicidade do país, diz que nem as carrega. "Fazem barulho e pesam. Costumo passá-las para minha secretária, que as junta em uma latinha de balas. Ela as utiliza para completar pagamentos ou dar gorjetas a "boys" que vêm aqui".
Além de publicitário, ele é numismata. Duailibi tem em sua coleção cerca de 15 mil moedas brasileiras, calcula.
A socialite e dona da loja de jeans Todo Mundo, Adriana Maluf, 39, diz que não usa moedas porque há falta delas no mercado. Como Duailibi, ela as acumula em um jarro em seu escritório.
O empresário Ivo Rosset, 52, superintendente do Grupo Rosset, brincou: "Nem sei se existe moeda de cruzeiro real. Não sei quanto vale a moeda de maior valor. Aqui na sala agora tem cinco pessoas e ninguém sabe isso."
Os quatro acreditam que, com a chegada do real, as moedas terão valor e, então, poderão ser usadas no dia-a-dia.

Texto Anterior: Porta-níqueis vão ser 'ressuscitados'
Próximo Texto: Moeda de real mudará hábito dos brasileiros
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.