São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 1994
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Palo Alto une cinismo e correção política

MATINAS SUZUKI JR.
ENVIADO ESPECIAL A LOS GATOS

O Brasil jogará no estádio da Universidade de Stanford. A belíssima universidade é uma das pontas-de lança do chamado multiculturalismo ou politicamente correto.
O multiculturalismo é o movimento que tenta aumentar o poder e a participação das chamadas minorias e grupos étnicos na vida institucional americana.
Stanford fica na cidade de Palo Alto. Palo Alto tem uma rádio alternativa que é o cúmulo do politicamente correto. É a Cabe B. Que transmite em FA e não em FM.
Ontem, entre 9 e 11h a atração da rádio politicamente correta era o papa do politicamente correto, o ex-linguista e filósofo, atual militante político, Noam Chomsky.
Chomsky é um craque no assunto. Talvez seja o mais bem preparado crítico da chamada nova ordem mundial. Suas análises e conclusões são questionáveis.
Mas ele está bem informado e sua argumentação é bastante coerente. A rádio pôs no ar uma conferência que ele realizou por aqui em abril passado.
A rádio também é interessantíssima. De tempos em tempos, o locutor entra no ar pedindo para as pessoas comprarem a fita com a gravação da palestra de Chomsky.
O apelo é quase o mesmo dos pastores eletrônicos. Esta rádio precisa sobreviver. Sem ela não haverá salvação. Sem ela ninguém derrubará o atual sistema tirano.
Como ela não tem anúncios, pede contribuição aos ouvintes. O locutor diz que a coisa é simples e crua: ouvinte, nós precisamos do seu dinheiro para sobreviver.
Noam Chomsky falou sobre a nova ordem mundial e o fim das democracias. Segundo ele, quem domina o mundo hoje são as "corporações transnacionais".
É a nova forma suprema e sofisticada do imperialismo sem pátria. Para Chomsky, organismos de ajuda internacional como o FMI, hoje, são agentes destas corporações.
Algumas de suas informações são curiosas. Segundo ele, as grandes empresas da Europa estão indo para os EUA atrás de mão-de-obra mais barata. E as dos EUA (obrigado, Nafta) atravessam o rio Grande pelo mesmo motivo. A fábrica alemã de carros Mercedes-Benz, como a Suzana, estaria indo para o Alabama.
Ele diz que 40% das exportações para o México são para serem reexportadas para lá. A maioria dos trabalhos criados atualmente são temporários, afirma.
A razão seria para dar uma maior flexibilidade ao mercado. "Flexibilidade do mercado é você ir dormir hoje e acordar amanhã sem trabalho", diz ele.
O desesperado locutor à procura de patrocínio para sua rádio volta a lembrar que precisa de dinheiro. Diz que aceita cartão de crédito para fitas de Chomsky.
Mas o próprio American Express não é uma "corporação transnacional"? Durma-se com essa nova ordem mundial.

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