São Paulo, quarta-feira, 15 de junho de 1994
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Homicídios duplos

Pode ser uma coincidência, mas o fato de quatro militantes de partidos de esquerda terem sido assassinados, dois a dois, num intervalo de menos de 24 horas lança a forte suspeita de que houve motivação política para os crimes.
De fato, embora ainda faltem evidências, parece difícil duvidar de que ambos os crimes tenham causa política. No primeiro deles, no interior paulista, as vítimas, o sindicalista José Luís Sundermann e sua mulher, Rosa Hernandes Sundermann, chegaram a queixar-se a colegas de que receberam ameaças anônimas de morte. Os Sundermann eram ligados ao PSTU (Partido Socialista dos Trabalhadores Unificados, anteriormente conhecido como Convergência Socialista, um grupo trotskista) e trabalhavam junto a movimentos de bóias-frias.
No segundo assassinato, no Rio de Janeiro, morreram o advogado Reinaldo Guedes Miranda e o historiador Hermógenes da Silva Almeida Filho. Ambos assessoravam uma vereadora do PT e militavam no movimento negro e de direitos humanos. O advogado prestava assistência judicial às vítimas das chacinas da Candelária e de Vigário Geral. Talvez esteja aí o "cui prodest", o "quem tira proveito".
De toda a forma, o mínimo que se pode exigir é rapidez e total transparência nas investigações desses dois duplos homicídios. É preciso que se confirme ou desminta o quanto antes a motivação política desses assassinatos e que se encontrem e se punam todos os responsáveis. O Brasil já deveria ter superado a fase em que diferenças políticas são resolvidas a bala.
De resto, por mais que se discorde –e com razão– de muitas das teses advogadas pelas agremiações a que as vítimas pertenciam, o Brasil carece de pessoas que se dediquem com afinco à defesa dos direitos humanos e dos trabalhadores e não se pode dar ao luxo de vê-las eliminadas a chumbo.

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