São Paulo, sexta-feira, 17 de junho de 1994
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Vices dizem que titulares têm boa saúde

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os principais candidatos à Vice-Presidência passaram um atestado de perfeita saúde aos titulares de suas respectivas chapas, a ponto de o senador Guilherme Palmeira (PFL-AL) exagerar na previsão.
"Pedi ao Fernando Henrique para fazer um check-up. Ele está bem e não corre o risco de falecer nesse período, pelo que diz o check-up", afirmou o candidato a vice na chapa encabeçada por FHC (PSDB/PFL/PTB).
Fantasma
Como check-up algum pode ir tão longe na garantia de longa vida, fica evidente que os candidatos estavam apenas tentando afastar o fantasma que assombra a República, o de os presidentes titulares não cumprirem o mandato.
Tal fantasma acabou dando o título ao primeiro debate entre os vice-presidenciáveis, realizado na noite de quarta-feira nos estúdios da TV Jovem Pan, com a participação também da rede CBN de rádio.
O título era "A República dos Vices", alusão ao fato de que, na história brasileira, sete vice-presidentes acabaram exercendo o mandato, inclusive os dois mais recentes ocupantes do Palácio do Planalto.
República de vices
Tanto José Sarney como Itamar Franco viraram presidentes pelo afastamento dos titulares (Tancredo Neves, hospitalizado na véspera da posse e morto 40 dias depois, e Fernando Collor, destituído por denúncias de corrupção).
Os cinco candidatos presentes (faltou Iris de Araújo Rezende, vice de Orestes Quércia, do PMDB) capricharam na louvação aos titulares.
"O senador Esperidião Amin é jovem", disse sua companheira de chapa, Gardênia Gonçalves (PPR), como se jovens fossem imunes à morte ou ao impeachment.
"Brizola não vai morrer coisa nenhuma, aquilo é de ferro", preferiu o senador Darcy Ribeiro (PDT-RJ), vice do também pedetista Leonel Brizola.
"Ele é um forte, indômito", assegurou o senador José Paulo Bisol (PSB-RS), vice de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Retórica
Prevenidos pelo próprio título do programa de que seriam cobrados a respeito de sua competência para assumirem o cargo de presidente, os candidatos a vice trouxeram uma armadura retórica para perguntas a respeito.
Escudaram-se todos nos programas de seus partidos e/ou candidatos, embora tais programas ou não existam ainda ou estejam em fase de detalhamento.
Gardênia Gonaçalves chegou a exibir o folheto "Brasil - Século 21", que é apenas a diretriz geral do PPR para o programa, elaborada quando o candidato em perspectiva do partido ainda era o prefeito paulistano Paulo Maluf.
Bisol acabou dando a resposta que serve de síntese para todas as demais: "Eu espero (se vier a assumir) fazer as coisas que o Lula certamente faria".
Por um cargo
Em todo o caso, os debatedores aproveitaram para reivindicar futuras posições no governo, modestas ou não. "Votar em Brizola é votar em mim para ministro da Educação", avisou Darcy.
Bisol candidatou-se a ministro da Justiça do governo Lula, mas insinuou também que pretende ser uma espécie de co-presidente.
"Enquanto ele viaja, posso ficar no lugar dele e, enquanto ele fica em Brasília, eu viajo", afirmou, depois de lembrar que a proposta do PT é governar sempre em contato com a população.
Mais modesta, Gardênia candidatou-se apenas "a convocar todas as mulheres para ajudar o governo na base, nos Conselhos Comunitários". Palmeira foi ainda mais contido. "`Vou ser o companheiro de todos os momentos (de FHC)", afirmou.
Vitor Nósseis (PSC), companheiro de chapa do almirante da reserva Hernani Fortuna, do mesmo partido, pediu o cargo de Corregedor Geral da República "para coibir todas as formas de furto que os escalões do governo têm praticado".
Nósseis contou que fizera idêntica proposta a Fernando Collor quando era presidente. Não foi atendido, como é óbvio.

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