São Paulo, sexta-feira, 17 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Lula teme se transformar em novo líder messiânico

CARLOS EDUARDO ALVES
ENVIADO ESPECIAL A ANDRADINA

Luiz Inácio Lula da Silva teme que uma parte do eleitorado esteja vendo nele um líder messiânico que resolverá todos os problemas do país caso chegue à Presidência da República.
Essa pressão "à esquerda", Lula (PT) acha, não será tão forte quanto aquela que vislumbra de "parte da elite", mas mesmo assim preocupa o candidato.
A saída imaginada por ele para evitar o impasse é genérica: "O nosso governo terá que chamar a sociedade e garantir a participação dela nas grandes decisões".
O discurso de Lula no terceiro dia de sua caravana eleitoral pelo interior paulista apontou mais uma vez para a linha da conciliação.
Aos agricultores, além do crédito subsidiado, prometeu maior participação nas decisões políticas.
Disse que vai investir na agroindústria como uma maneira de evitar o êxodo rural.
Falando em Jales a pequenos produtores de uva, arrancou aplausos ao afirmar que um de seus sonhos é permitir que "cada criança possa consumir pelo menos um cachinho de uva por dia".
Nessa cidade, Lula foi recebido pelo prefeito José Carlos Guisso (PPR) e por uma receptiva platéia formada majoritariamente por colegiais dispensados das aulas.
Um dos objetivos da visita do petista ao interior é combater o que chama de "intrigas" espalhadas por adversários.
Ontem, foi a vez de desmentir que fechará as igrejas evangélicas, caso seja eleito. "Acredito que a liberdade religiosa é um dos pressupostos da democracia", disse.
Pelo segundo dia consecutivo, Lula criticou o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, senador Mário Covas.
"Como o Quércia e o Fernando Henrique, Covas foi eleito em 86 graças ao estelionato eleitoral do Plano Cruzado", disse.
Para Lula, a aliança do tucano com o PFL paulista "não combina" com o passado do senador.
O petista declarou também que não pretende atacar adversários de candidatos do PT em outros Estados. "Isso é coisa para quem está lá, mas em São Paulo eu estou à vontade para falar."
O presidenciável afirmou que concordava com a frase do ex-presidente José Sarney, para quem "não há força humana" capaz de derrotar o candidato do PT.
"Ele tem razão. Além disso, as forças divinas também estão do meu lado", declarou.
O sistema financeiro, que na análise e no marketing petista tem o papel de vilão, foi criticado por Lula devido à alta da taxa de juros. "O sistema financeiro está com medo do real, como tem medo de tudo", disse.
Mais conciliador, Lula acenou até para os fazendeiros da União Democrática Ruralista (UDR).
Disse que está disposto a conversar com qualquer segmento da sociedade e que, no debate previsto para hoje com os produtores rurais da região de Presidente Prudente, espera a participação de pessoas ligadas à UDR.

Texto Anterior: Empresas expõem argumentos
Próximo Texto: FHC diz ter feito crítica 'carinhosa' a eleitor
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.