São Paulo, sexta-feira, 17 de junho de 1994
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Começa a grande festa multiculturalista

MATINAS SUZUKI JR.
ENVIADO ESPECIAL A CHICAGO

Meus amigos, meus inimigos, até a torcida irlandesa está bronzeada por aqui, de tanto sol e calor às margens do sereno e verde-azulado lago Michigan.
Então chegou a hora desta gente bronzeada mostrar seu valor. É hoje o dia. Da alegria. Pelo menos da nossa. Porque os donos-da-casa americanos estão naquela base do adivinhe quem vem para o jantar.
Não se espante se a Bolívia aprontar alguma com a Alemanha no jogo de hoje. Não, não é só por causa da tradição do karma do jogo de abertura. É que sul-americanos complicam para o alemães.
Explico: habitualmente, um sistema de jogo mais solto e com outra disposição tática no meio-de-campo costuma atrapalhar o sistema alemão de toques rápidos e contra-ataque. Confunde a sua marcação.
Mas a Alemanha, estruturada, quase o mesmo time campeão de 90, tem tudo para se dar bem nesta Copa. Segundo as informações, parece estar bem preparada até para enfrentar o forte calor.
Taticamente, Lothar Matthaus (número 10, 33 anos, do Bayern de Munique), o melhor jogador da última Copa, atuando como líbero, será uma inovação. Pode dar mais inteligência às saídas com a bola.
A expectativa é grande também com relação ao atacante Andreas Moeller (atuará com a 7, tem 1,80m, 26 anos), que joga na Juventus, de Turim, o mesmo time de Roberto Baggio, a estrela da Copa.
A Bolívia tem a tradição da zebra no jogo inaugural a seu favor. Mas ainda precisa provar duas coisas. Primeiro, que não depende da altitude para jogar futebol, fato a se confirmar.
Segundo, que a sua principal peça, o solista do elenco, o meio-campista Marco Antonio Etcheverry (número 10, 1,76m, 23 anos, joga no Colo-Colo do Chile), "El Diablo", está em condições de jogo.
A festa hoje será uma festa estrangeira. Não há problemas para a América. Este é hoje um país multiculturalista. E esta é justamente a grande chance do futebol nos EUA: imigrantes... e crianças.
A questão é, como pergunta a revista"Newsweek" desta semana: "quem é o americano" hoje em dia? A América branca ou os afros, latinos, árabes, asiáticos que povoam suas cidades?
Os jornais do mundo branco como o "The Wall Street Journal" e o "The New York Times" não deram ontem nada sobre a Copa, na véspera do evento que terá 30 bilhões de espectadores no mundo.
Mas Chicago, por exemplo, é um caleidoscópio racial. Outra América. Saiu aqui um guia chamado "Chicago Étnica" (alô, alô, Silvio Cioffi, chegou a hora do turismo politicamente correto).
O autor do guia, Richard Lindberg, diz que Chicago permanece a mais étnica e culturalmente diversa cidade americana. Houve uma imigração européia. Mas os negros hoje são a metade da população.
A Copa do Mundo é para esta América diversa e de lugar nenhum. Aqui é a terra da oportunidade. A bola é a bola da vez. Só a Diana Ross (que eu flagrei na calçada de Omotesando, Tokyo) vale o bilhete.
Abrem-se as cortinas e começa o espetáculo, como diria o locutor poeta. A vida nada mais é do que um grandioso pontapé inicial. Inté Nova York, galera.

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