São Paulo, sexta-feira, 17 de junho de 1994
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Copa dos EUA será melhor que a da Itália

TELÊ SANTANA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Começa hoje uma Copa do Mundo que, tenho certeza, será bem melhor do que a de quatro anos atrás.
Mais técnica, menos violência e, acima de tudo, mais gols, é o mínimo que esperamos do que vai acontecer a partir de hoje nos Estados Unidos, este país de pouco futebol.
Na Itália, tivemos a pior Copa da história. Nela prevaleceu justamente o oposto: os sistemas defensivos, arbitragens tolerantes com o pontapé e poucos gols.
Basta dizer que a Argentina marcou, em sete jogos, apenas cinco gols. Se tivesse empatado em 0 a 0 com a Alemanha, na final, e ganho o título nos pênaltis, teria sido campeã com menos de um gol por jogo.
Espero aqui, entre outras coisas, um Brasil mais ofensivo, jogando com a consciência de que, agora, cada vitória vale três pontos.
Um futebol como o nosso não pode jogar para empate. Temos, talvez, o melhor elenco dos 24 presentes nesta Copa. Acredito nele.
Tenho expectativas otimistas também em relação ao progresso do futebol africano e à qualidade das arbitragens.
As recomendações da Fifa aos árbitros são no sentido de não deixarem o antifutebol entrar em campo. Embora, no Brasil, o nosso Renato Marsiglia não se preocupe muito com isso.
Se podemos nos orgulhar de nosso futebol, não podemos dizer o mesmo dos nossos árbitros, aqui representados exatamente por Marsiglia.
Falando em futebol, em bom futebol, devemos saudar a chegada de Ronaldão aos Estados Unidos.
É de estranhar que tenha sido preciso saírem dois para que ele tivesse um lugar entre os quatro zagueiros da seleção brasileira. Na verdade, ele já deveria estar entre os 22 chamados no primeiro momento.
Ronaldão é jogador de seleção. Sério, dono de uma raça impressionante, marcador implacável, excelente no jogo pelo alto. Em resumo, uma muralha.
Conheço-o mais do que bem. Quando cheguei ao São Paulo, ele andava meio por baixo. Por uma necessidade, desloquei-o da zaga para o meio campo.
Fui muito criticado por isso. Não entendiam que, com Ronaldão naquele setor, jogadores como Leonardo tinham cobertura adequada para se lançarem ao ataque.
Pode não ser dono de grande técnica, seu futebol talvez não seja muito refinado, mas tem um invejável vigor físico.
Não é tarefa fácil passar por ele. Considero-o um dos melhores zagueiros do Brasil. Se entrar no time, não sairá mais.
Somem-se a tudo isso o seu caráter e a sua personalidade. Já estava de malas prontas para ir jogar no Japão e aparecia todos os dias para treinar no São Paulo, como se ainda estivesse no clube.
São de jogadores e homens como este que o futebol está precisando.

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