São Paulo, sábado, 18 de junho de 1994
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Itália terá três atacantes contra Irlanda

SÍLVIO LANCELLOTTI
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

No passado e na tradição, a Itália é a favorita absoluta, hoje, no cotejo de abertura do Grupo E da Copa dos EUA/94.
O jogo acontece no complexo esportivo de Meadowlands, no subúrbio de East Rutherford, a meia hora sem trânsito do centro de Nova York, no Giants Stadium que serviu de palco, quase duas décadas atrás, para o Cosmos de um certo Pelé.
O magnífico conjunto, várias instalações esportivas, do gramado do soccer a uma arena coberta para outras modalidades, surgiu em 1976, exatamente no apogeu do Cosmos -que, além de Pelé, contava com o alemão Franz Beckenbauer, o brasileiro Carlos Alberto Torres, o holandês Johann Neeskens e o italiano Giorgio Chinaglia.
Então, o espaço comportava cerca de 77.000 espectadores - uma plenitude que as exigências da Fifa diminuíram para exatamente 75.338, todos sentados.
Um novo tapete verde cobre o piso do estádio. Desde a sua inauguração, todos os esportes que lá se praticaram obrigatoriamente utilizaram um tapete artificial.
As exigências da Fifa fizeram com que os organizadores do Mundial gastassem perto de US$ 1 milhão apenas na cobertura do plástico por uma camada de dez centímetros de grama natural, proveniente do arquipélago das Bermudas e perfilhada nas terras ultraférteis do Estado da Virgínia.
Na manhã de ontem, a "Squadra Azzurra" exaustivamente testou, e aprovou, as condições do campo. À tarde coube ao time da Irlanda o reconhecimento do lugar, também com o apoio integral dos seus atletas. Curiosamente, o terreno de batalha não ostenta as medidas mínimas previstas para um Mundial -o tapete do Giants Stadium tem 103 metros de comprimento, quando a Fifa pede 105.
As dimensões comprimidas, todavia, não incomodam a "Azzurra" do mister Arrigo Sacchi. Em seis combates anteriores, o time da Bota ganhou todos, realizando 13 tentos e sofrendo meramente dois.
Na verdade, a Itália só entregou as suas redes ao desfrute da Irlanda nas plagas do inimigo, em maio de 71 e em fevereiro de 85, dentro de Dublin, dois sucessos iguaizinhos, 2 X 1.
Desde que o mister da Irlanda, Jackie Charlton, assumiu a sua equipe em fevereiro de 86, a Itália bateu a sua adversária em outras duas vezes -na Copa da Bota, em 90, 1 X 0, e na US Cup de 92, o resultado de 2 X 0.
4-3-3
Os estilos das equipes em debate também ajudam a postura da Itália. Depois de sete décadas de retranca, o "catenaccio"/cadeado de plantão, o uso simplório do líbero como um zagueiro de mera cobertura, o meio-campo mais aplicado à proteção da sua retaguarda, mister da "Azzurra" desde outubro de 91, quando o seu antecessor, um ultra-conservador, Azeglio Vicini, não conseguiu qualificar o seu elenco ao torneio da Europa, Sacchi promete se mostrar o treinador mais ousado do certame dos EUA.
O seu time está treinando num ofensivo sistema 4-3-3, esquecido no universo desde o imbatível Brasil do México/70.
O esquema, de certa maneira, desprotege a retaguarda. Sacchi, todavia, conta com os melhores defensores disponíveis no futebol de agora, praticamente toda a zaga do grande Milan -o stopper Billy Costacurta, o líbero e capitão Franco Baresi, o lateral-apoiador Paolo Maldini, um lateral de inúmeras utilidades.
Pela direita vai entrar um "jolly", ou um coringa, como adoram denominar os peninsulares, o agressivo Toni Benarrivo.
Na cobertura da intermediária se postarão o sólido Demetrio Albertini e o fogoso Dino Baggio. Resta uma vaga para Sacchi decidir, entre o aplicado Alberigo Evani, o mais agitado Nicola Berti e o inteligente Roberto Donadoni.
Na frente, seguramente, estará o tridente comandado pelo astro Roby Baggio, mais o amuleto Dani Massaro e o sempre sorridente goleador Beppe Signori.
Irlanda
Que gênero de surpresa ostentará a Irlanda diante de tal armação, impecável no papel?
Um bravo beque pela Inglaterra, em casa, na Copa de 66, um mero reserva, decadente e beberrão no México/70, o rude Jackie Charlton desvenda o seu mistério com um vozeirão assustador, apoiado num charuto fedorento que impede a aproximação: "Combateremos como sempre, através dos tiros longos à frente e das contra-ofensivas pelos flancos".
Charlton é um homem prolixo, que adora os discursos demorados, à imprensa ou à sua delegação. Vai esconder a sua escalação até o último minuto, duas horas antes de o cotejo se iniciar, como exigem os regulamentos da Fifa. Não dispõe de muitas alternativas, porém.
Em conversa com a Folha, o treinador da Irlanda admitiu que a sua maior preocupação reside nos chamados "tackles", os carrinhos pelas costas merecedores de um automático cartão vermelho no Mundial.
"Discutimos o assunto todos os dias, principalmente no ônibus que nos leva da concentração ao campo de treinamento. Na Grã-Bretanha, o `tackle' faz parte do cotidiano do futebol. Agora, porém, os meus atletas necessitam se cuidar. Eu não posso perder um jogador num lance de distração ou de estupidez", afirmou.
Mais grave, apenas nos vestiários Charlton saberá se o seu astro do meio-campo, Roy Keane, contundido numa virilha, conseguirá enfrentar os seus invictos inimigos peninsulares.

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