São Paulo, sábado, 18 de junho de 1994
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Seleção adota corte de cabelo 'europeu'

MAURICIO STYCER
ENVIADO ESPECIAL A LOS GATOS

O eterno conflito futebolístico entre as escolas européia e latino-americana se reflete também na tesoura do barbeiro.
O Brasil, orientado pelo cabeleireiro oficial Paulo Cesar Carvalho, resolveu se alinhar aos europeus.
Jogadores latino-americanos costumam deixar o cabelo comprido e os europeus têm o hábito de usá-los bem curtos.
Cabelo moderno é cabelo curto, decretou Carvalho. "Quando você olha o Valderrama, da Colômbia, você não tem a impressão que o cabelo dele é sujo?", pergunta.
Carvalho se refere ao cabeludo meia colombiano Carlos Alberto Valderrama. Poderia ter falado também de Batistuta (da Argentina) ou Etcheverry (Bolívia), outros dois famosos cabeludos que serão vistos em atividade nesta Copa.
O Brasil, se depender de Carvalho, não entrará em campo com nenhum fio de cabelo em excesso.
Até ontem, só Raí, Leonardo e Branco ainda resistiam à idéia de se submeter à tesoura do cabeleireiro. "Estou atrás deles. Eles estão meio fora de moda", disse.
O que mais sucesso faz é o corte "mauricinho" de Bebeto: cabelo quadrado, caindo dos lados, parecendo um capacete. "As pessoas chegam no meu salão e pedem um corte igual ao do Bebeto", conta.
"O pessoal critica e diz que o Bebeto fica com cara de mauricinho. Não concordo. Quando ele faz um gol de cabeça e sai para comemorar, você olha e parece que ele acabou de sair do cabeleireiro. Isso não é estilo mauricinho. É prático", defende Carvalho.
Uma novidade introduzida pelo cabeleireiro na seleção foi o corte radical em Viola. O atacante ficou quase careca, parecido com os cantores de rap. "Me inspirei nos jogadores de basquete americano", diz Carvalho.
Ronaldo também ficou quase careca nas mãos do cabeleireiro. O jogador adotou um corte, muito em moda em São Paulo, conhecido como estilo "trombadinha".
O apelido vem da semelhança com o corte usado em unidades de internação de meninos infratores.
O zagueiro Márcio Santos adotou um dos cortes mais exóticos da seleção. Raspou uma faixa de cabelo de dois centímetros próxima à orelha, dos dois lados. O resto do cabelo ficou enrolado, parecendo com um índio de filme americano.
"Pedi para cortar assim. Ficou bom, né?", perguntou Márcio Santos ao repórter da Folha.
O meia Dunga foi o primeiro jogador da seleção a adotar um corte mais moderninho: cabelo bem curto, "espetado", como os punks usavam na década passada.
O corte foi apelidado pelos jogadores de "exterminador".
Romário, com o cabelo bem curto atrás e dos lados, e mais alto na frente, também está na moda, segundo Carvalho.
Apesar de "atleta de Cristo", Jorginho ficou quase punk com um corte parecido ao de Dunga.
Paulo Cesar Carvalho, 42, retorna ao Brasil no dia 30 de junho. "O Romário já falou que se o Brasil chegar na final vai mandar me trazer de volta", diz.
Carvalho jura que está trabalhando de graça para a seleção. "Só ganho prestígio", diz. No Rio, ele é dono do Atelier Paulo Cesar de Cortes e Penteados.
Apesar de usar um corte de cabelo mauricinho, Carvalho garante que não é conservador. Mostra a foto de um de seus três filhos: o garoto usa o cabelo verde.

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