São Paulo, sábado, 18 de junho de 1994
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Cinema japonês adota novos rumos

LÚCIA NAGIB
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

O declínio das grandes produtoras não conseguiu (ainda) matar o cinema japonês. É o que prova a mostra "Cinema Japonês: Anos 90", organizada pela Fundação Japão e em exibição no Centro Cultural São Paulo desde terça-feira passada.
Entre os 14 filmes selecionados, pelos menos dois testemunham ainda alguns sinais de vitalidade dos velhos estúdios. Trata-se de "Época de Garoto", da Daiei, e "Tora-San Tira Férias", da Shochiku, dirigidos respectivamente pelos veteranos Masahiro Shinoda e Yohji Yamada.
Este último, a ser exibido neste domingo, constitui um dos inúmeros episódios da famosa série "Tora-San/ É triste ser homem", que tem contribuído significativamente para manter o orçamento da Shochiku nos últimos anos.
À parte esses filmes, ainda marcados pela preocupação com os problemas da 2ª Guerra e pelo sentimentalismo dos anos 50, os dos diretores mais jovens apontam rumos diferentes e estimulantes.
Louvam uma marginalidade, já não mais de causas diretamente sociais, mas internas do indivíduo. A técnica narrativa deriva frequentamente do "manga", ou seja, das histórias em quadrinhos japonesas, como em "Nadando contra a Corrente", exibido ontem.
Neste, um jovem é tomado pela estranha obsessão de mostrar-se um bom nadador para conquistar uma garota, sofrendo uma deformação de caráter que contamina todos à sua volta.
Mas o mais típico e bem-sucedido exemplo é o de "O Incapaz", dirigido por Naoto Takenaka, a ser apresentado na próxima terça-feira.
O personagem central, interpretado pelo próprio Takenaka, é, ele mesmo, um cartunista, que abandona a profissão movido pela obsessão de vender pedras decorativas. Instala sua pequena barraca nas margens de um rio recobertas de pedras –e é claro que fracassa no negócio. Mesmo assim, consegue a adesão do filho e em seguida da mulher, que o acompanham em sua derrocada –repleta de cenas surrealistas e de citações bem-humoradas de Ozu.
Uma outra tendência sobre personagens marginais, que quase se transformou num gênero nos últimos anos no Japão, são os filmes sobre surdos-mudos.
Há três exemplos na mostra: "Na Força da Torcida" (filme que abriu a mostra), "Meus Filhos" e "O Mar mais Silencioso daquele Verão". Este último, dirigido por Takeshi Kitano, famoso humorista japonês (e ator inesquecível em "Furyo", de Nagisa Oshima), é o mais original deles. Filme minimalista, focaliza a luta inglória de um lixeiro surdo-mudo para tornar-se surfista.
A mostra oferece também a oportunidade de rever hoje "O Ferrão da Morte", já exibido comercialmente aqui, filme primoroso, também sobre personagens obsessivos, que se entregam à autodestruição pelo ciúme.

Mostra: Cinema Japonês: Anos 90
Onde: Centro Cultural São Paulo - sala Lima Barreto (r. Vergueiro, 1.000, tel. 011/)
Quando: até de 30 junho
Hoje: exubição do filme "O Ferrão da Morte", às 15h30, 18h e 20h30
Entrada: franca

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