São Paulo, sábado, 18 de junho de 1994
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Entra em cena o heróico feminismo bang-bang

MARIO MENDES
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nesta temporada, na TV, no cinema, em livro, as mulheres decidiram se armar até os dentes. Vide o sucesso da minissérie global "Memorial de Maria Moura", o western caboclo com sabor de Sergio Leone, com uma heróica Gloria Pires (magnífica!), declarando guerra de foice contra a horrenda Zezé Polessa –sua personagem, a Firma, já virou emblemática.
Pode nem ter passado pela cabeça da autora do livro, Rachel de Queiroz, ou do diretor da minissérie, o ex-chanchadeiro Carlos Manga, mas a briga entre Maria Moura e Firma lembra muito o duelo de botas de salto alto e cano longo entre Joan Crawford e Mercedes McAmbridge no clássico "Johnny Guitar", de 1954.
Toda vez que Gloria aparece vestida de bandida, no início de cada episódio, quem viu o filme não pode deixar de lembrar da hora em que Crawford, injuriada, decide mandar a rival desta para melhor. Por isso "Maria Moura" é tão emocionante, com os espectadores se perguntando se nossa heroína conseguiria raspar o bigode da perversa Firma...
Polegar
A moda do bang-bang feminino, claro, veio de fora. Embalada, sem dúvida, pela mistificação lesbian-chic/lesbian pas chic. Há pelo menos um ano se comenta a versão cinematográfica do livro de Tom Robbins, "Even the Cowgirls Get The Blues" (Até as Vaqueiras Ficam Tristes), dirigido por Gus van Sant –o mesmo de "Garotos de Programa".
Tudo porque as deliciosas cowgirls Uma Thurman e Lorraine Bracco têm um affair que envolve um polegar avantajado... O filme, entretanto, não emplacou nos Estados Unidos e demora a ser lançado por aqui. É o típico caso do filme de que todo mundo fala mas ninguém viu ainda. Enquanto isso, fique com o livro, lançado no Brasil pela editora Rocco.
Garotas más
Outra opção é o western (Hollywood anda apostando no gênero este ano) "Bad Girls", que, mesmo se o tal polegar, tem um elenco irresistível: Madaleine Stowe, Andie McDowell, Mary Stuart Masterson e Drew Barrymore. Estréia prevista para este mês, segundo os exibidores que, parece, sempre mudam de idéia.
Ela era ele
O disfarce era tão perfeito que a comunidade onde ela/ele se instalou só descobriu a verdade no dia em que ela/ele morreu. Quer dizer, tudo se perde.
Cuba também tem
E tem mais, no livro "Amazons and Military Maids", coletânea de casos de mulheres que se passaram por homens ao longo da história, uma merece destaque. Trata-se da cubana Loretta Velazquez.
Linda, ela ficou viúva muito cedo, assumiu a identidade do marido morto e foi em busca do ouro na Califórnia. Quando cansou dessa vida perigosa, fez carreira como jornalista na Europa e na América do Sul, sempre como homem. E ainda teve tempo de voltar a ser mulher, casar mais três vezes, ter filhos e escrever sua autobiografia. Ufa!
Miss Day
Depois disso só mesmo encarando uma Sessão da Tarde ou com "Ardida Como Pimenta", estrelado pela adocidada Doris Day, liberando todo seu "côté" rapaz na pela da lendária Jane Calamidade. Miss Day nunca esteve tão à vontade...

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