São Paulo, sábado, 18 de junho de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

E se sumiu mais?

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – A mania brasileira de transformar tudo em piada (às vezes também em pizza) está obscurecendo uma questão fundamental em relação aos saquinhos com moedas de reais que apareceram no lixo de Brasília.
Uma questão principal até simples: será que os bancos depositários da nova moeda não fazem um controle estrito da quantidade que receberam?
Note o leitor que não foi uma denúncia da agência do Banco do Brasil no Senado que levou à localização das moedas sumidas. Se o catador de papel que as encontrou não saísse por aí gastando o dinheiro, ninguém ficaria sabendo que R 200,00, em moedas, haviam desaparecido do banco.
Fica permitida uma extrapolação eventualmente exagerada: se sumiram R 200,00 e ninguém percebeu, é bem possível que possa ter sumido muito mais. Basta que quem encontrou (ou desviou) o dinheiro o mantenha em casa, até que a nova moeda passe a ter circulação legal e pronto.
Pelo menos para mim, a coisa deveria funcionar assim: o Banco Central distribui uma quantia X de reais para uma dada agência bancária. Essa agência confere o dinheiro e atesta que a quantidade entregue está segura nos seus cofres.
Não foi o que ocorreu. Faltavam os tais R 200,00 em uma agência do BB, mas ela não se deu conta até que o catador de papel fosse localizado, dono do duvidoso privilégio de ser o primeiro a pagar despesas com o real.
Se faltavam R 200,00 e ninguém percebeu, o que impede que, nessa mesma agência ou em outras, falte alguma coisa e também ninguém note?
Em vez de cair em cima dessa dúvida, absolutamente pertinente, o Ministério da Fazenda preferiu se preocupar com o grau de desinformação da população. É claro que a desinformação é grave, mas previsível. Não é todo dia que, digamos, 2.700 URVs, que nem moeda é, na totalidade das funções da moeda, viram R 1,00.
Mais grave é sumir dinheiro do cofre forte de um banco oficial e só se descobrir por acaso.

Texto Anterior: Autofagia
Próximo Texto: É ilegal, mas correto
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.