São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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Risco de desabastecimento preocupa governo

REGINA ALVAREZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O sucesso do Plano Real está ameaçado por uma série de problemas que o governo precisa enfrentar. Os mais graves para a equipe econômica são o risco de desabastecimento e a pressão dos militares por reajustes de salários.
Os riscos de desabastecimento provocados pelo aumento de consumo no real levou o governo a criar um grupo interministerial para propor alternativas para assegurar aumento da oferta de produtos.
Entre elas estão a redução das tarifas de importação e a possibilidade de criar linhas de crédito especiais para estimular a formação de estoques na indústria.
A equipe econômica considera a taxa de juro incapaz de impedir o aumento do consumo de alimentos e bens populares na primeira fase do real. A expectativa é que aumente o poder de compra da população de renda mais baixa.
O reajuste do funcionalismo ameaça o equilíbrio das contas. O governo afirma que o Orçamento de 94 está equilibrado, mas lideranças no Congresso apontam déficit potencial –gastos acima da receita– de US$ 8 bilhões.
O êxito do plano depende do equilíbrio das contas públicas, já que o seu déficit é apontado como uma das causas da inflação. O governo é obrigado a se endividar no mercado para cobrir o seu rombo.
Se o governo ceder às pressões concedendo reajustes ao funcionalismo, as despesas com pessoal vão aumentar US$ 3,5 bilhões este ano, comprometendo definitivamente o equilíbrio orçamentário.
Qualquer aumento real para o salário mínimo também compromete as finanças públicas, especialmente a Previdência Social.
A equipe econômica terá de negociar com o Congresso aumentos reais para o mínimo, já que a lei 8.880 a obriga a enviar projeto de lei ao Legislativo nesse sentido, até o dia 27 de junho.
O resíduo inflacionário –parcela da inflação dos últimos dias de junho que não deve ser repassada para os contratos e salários– também deve trazer dificuldades para a equipe. Esse resíduo, que a equipe considera apenas estatístico, deve ser usado pelos adversários do governo durante o horário eleitoral para atacar o programa econômico.
O ministro Rubens Ricupero já anunciou que só em agosto o país verá os resultados efetivos do real. Até lá, a confusão dos índices de preços prejudicará o governo.
O fantasma do déficit público ronda a equipe com a investida dos militares junto ao presidente Itamar para que o projeto de isonomia seja executado imediatamente.
Segundo os parlamentares que analisaram a última versão do Orçamento 94, o equilíbrio de contas é fictício. O governo teria subestimado os gastos com juros da dívida com o Sistema Único de Saúde e os benefícios da Previdência.
O governo previu gastar US$ 7,7 bilhões com juros. A própria comissão de Orçamento avalia que esses recursos serão insuficientes.

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