São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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Pó foi descoberto com usuário adolescente

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A mesma substância que, adicionada à água, foi usada pelos russos para provocar diarréia no exército de Napoleão é agora usada em São Paulo como substituto da heroína e do ópio: a pólvora.
A novidade no mundo das drogas chega com ares de fatalidade, já que pode matar em pouco tempo (leia texto ao lado).
A pólvora tem sido empregada sempre adicionada ao álcool e já se converteu na principal preocupação do Departamento Estadual de Narcóticos de São Paulo (Denarc).
"Temo que a pólvora vire um novo modismo", declarou Alberto Corazza, delegado do Denarc.
A detecção da pólvora começou há dois meses, por obra do estudante H., 17, morador da zona sul de São Paulo. Seu pai, um empresário, encontrou uma porção do pó negro em uma das gavetas do quarto do filho. Suspeitou que fosse algum tipo de barbitúrico e levou a substância ao Denarc.
Depois de horas de experimentos químicos, Corazza resolveu acender um fósforo e a substância incandesceu. O passo seguinte foi checar com o menino como ele havia tido a idéia de misturar pólvora com álcool.
Disse o menino H. que a pólvora havia-lhe sido apresentada "por alguns colegas", que tinham o hábito de adicionar o pó negro a doses de vodca gelada.
H. chegou a queixar-se com os pais, dizendo que o consumo da droga havia provocado vômitos.
Outros dois casos de jovens com o mesmo problema chegaram na central de acompanhamento de viciados do Denarc, um serviço de atendimento gratuito a drogados.
Os adolescentes disseram que, para adquirir a pólvora, compraram bombas de São João ou simplesmente se dirigiram a casas religiosas, onde a pólvora é vendida.
A liga da pólvora com álcool age no corpo da seguinte forma: a pólvora contém nitrato de potássio. Os nitratos são estimulantes.
Com o álcool, o sistema nervoso central fica "deprimido", o que abre as portas para a ação do nitrato. "A sedação que a pólvora provoca é muito preocupante porque a sensação é a mesma do ópio e da heroína", diz Corazza.
O que se teme, além dos efeitos fatais, é que essa nova modalidade de consumo induza ao vício em drogas mais pesadas, como crack.

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