São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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Após mil anos, canto gregoriano é moda

MARCELO MUSA CAVALLARI
DA REDAÇÃO

Nem a mais antiga forma de música ainda em prática no mundo escapou de virar moda. Apesar de toda a estranheza de um universo sonoro fundamentalmente diferente de todo o resto da música ocidental e oriental, o canto gregoriano ganha ares de sucesso pop.
Embalado pelo sucesso que o CD dos monjes beneditinos espanhóis de Silos (55 mil cópias vendidas no mês de lançamento no Brasil) ouvidos habituados aos mais diferentes estilos se rendem ao que se pode chamar de música oficial da Igreja Católica.
O disco é vendido pela campanha publicitária da gravadora como uma espécie de calmante new-age sem contra-indicações. É possivelmente assim que a maior parte dos compradores dele no mundo todo o está usando (dizer "escutando" seria, talvez, excesso de boa vontade).
Gregoriano no entanto é, no mínimo, música da melhor qualidade. E cheio de surpresas para quem quiser tentar aprender algo e ultrapassar o limiar de ouvi-lo, entre embevecida e sonolentamente, como uma vaga atmosfera sonora para relaxar.
O gregoriano é cantado a uma só voz, sem acompanhamento. É provavelmente a única forma de música cujo ritmo se baseia nas palavras de textos em prosa (no caso, trechos da bíblia em latim).
A mais importante parte do repertório gregoriano já estava composta no século 9º. São dessa época os primeiros manuscritos que registram notação musical.
No entanto, já se cantava nas cerimônias da igreja e no ofício rezado pelos monjes e monjas nos mosteiros havia tempos.
O próprio papa Gregório, que empresta seu nome ao gênero, morreu no século 7º. Ele organizou a liturgia e tornou comum para toda a Igreja do Ocidente um dado repertório musical.
Não se sabe quem compôs os cantos, com exceção de umas poucas peças de origem mais recente (a partir do século 11).
Séculos de convivência com a polifonia (em que diferentes vozes cantam partes diferentes ao mesmo tempo) puseram o gregoriano em posição subalterna mesmo dentro da Igreja.
Em segundo plano, o canto se corrompeu. No início do século passado era uma música desprovida de qualquer interresse em que se martelava uma nota atrás da outra sem nenhuma expressividade.
Foram os monjes do mosteiro de São Pedro de Solesmes, na França, que se dedicaram a estudar os manuscritos e redescobrir, na fonte, a plasticidade do gregoriano. As edições usadas hoje pela Igreja dos cantos da missa e dos ofícios foi preparada por eles.
Até hoje, Solesmes é o principal centro de estudos do gregoriano. As gravações do mosteiro são das melhores coisas que se podem encontrar na discografia do gênero.
Mas há muito sendo feito em gregoriano no mundo. No mês passado, por exemplo, realizou-se em Watou, na Bélgica, um festival de canto gregoriano de que participaram 23 corais. Desses, 20 eram europeus, dois, coreanos e um, brasileiro. (leia texto ao lado).

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