São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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O futuro dos laterais nos pés de Leonardo

ALBERTO HELENA JR.
EM LOS GATOS

Findo o treinamento da seleção em Santa Clara, cruzo com Marinho Chagas –lembram-se? –aquele lateral-esquerdo do Botafogo, do São Paulo e da Copa de 74.
Marinho, pode-se dizer, foi um precursor, um pioneiro dos modernos laterais, misto de zagueiro, médio e ponta. E pagou um alto preço por isso. Vivia sendo atacado pela imprensa mais conservadora, que achava que lateral tinha de se preocupar com os pontas, quando ainda havia pontas fixos. E até mesmo alguns companheiros mais soberbos reclamavam do que se chamava de "loucuras do Marinho". O goleiro Leão, depois do jogo contra a Polônia, em 74, meteu-lhe o braço, culpando-o pelo gol de Lato.
"É, rapaz, eu estava dez anos na frente, não é?" –perguntava-me Marinho, um riso só, à beira do gramado onde o Brasil pouco antes treinara um treino burocrático, opaco.
É verdade. Marinho mostrou, há vinte anos, o caminho. Só que, por ironia da sorte, seu clone atual, Leonardo, vive um drama semelhante: há quem torça o nariz toda vez que ele desembesta pela ponta-esquerda afora. O próprio Branco, outro dia, insistia comigo: "Lateral, primeiro, tem de marcar; depois, atacar, se der".
Quer dizer: Marinho desenhou o futuro; Parreira o desdenhou, em nome da segurança.

Dunga, este é o perfil do time de Parreira, que amanhã estréia na Copa. E até mesmo quem lhe atirava pedras hoje atira-lhe flores: "Nossa, como está jogando o Dunga!".
Nem mais, nem menos. Dunga está jogando o que sabe, pois jamais foi o perna-de-pau que muitos insistiam em pintar. Tampouco está jogando além da conta. O que ocorreu foi que o Brasil só enfrentou até agora adversários assustados, que ficaram lá atrás, oferecendo espaço para que Dunga se projetasse. Então, Dunga aparece a toda hora lá como um meia avançado. Recebe, passa, recebe, passa, tenta um chute a gol, uh!, quase...
Dunga tem um espírito forte. Sabe de suas limitações, mas sabe também de suas virtudes. Quem tentar colher dele uma declaração ufanista ou um desabafo do tipo "cala-a-boca dos inimigos" vai perder tempo. Suas declarações refletem sempre seu espírito de equipe.
E é essa perseverança e essa consciência que chegam a me sensibilizar. Não seu futebol.

A bola começou a rolar na Copa. E, como reza a tradição, o jogo de abertura foi tenso, feio e sem emoções. A Alemanha ganhou da Bolívia, num gol achado por Klinsmann.
Mas que ninguém se iluda com essa Alemanha da estréia. O que vimos em campo foi a tradição dos jogos de abertura da Copa. Não a tradição alemã, com seus ótimos jogadores.

No coletivo de sexta-feira, Cafu foi compor o meio-campo reserva com Mazinho e Viola. Os titulares levaram a maior canseira. E isso porque, segundo Parreira, Cafu é lateral, apenas. Quer dizer: nem tanto, pois ele já admitiu que abriu mão de um armador, por saber que pode contar com Cafu e Leonardo por ali. Então, que conte, rapidinho.

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