São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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Medições de terreno já exigiram 320 mil quilômetros de caminhada

MARCELO LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é só de cartografia que vivem os mapas do IBGE. Antes dela vem a geodésia, ciência que estuda formas e dimensões da Terra.
Sua função é fincar no território os marcos em relação aos quais os acidentes geográficos podem ser localizados. Como os eixos vertical e horizontal de um gráfico, sem os quais não há como marcar os pontos de uma curva.
E não pense que "fincar marcos no território" é força de expressão. São marcos de verdade, ou melhor, de cimento. Mais de 60 mil deles, que começaram a ser espalhados pelo Brasil há meio século. Muita gente já tropeçou num deles.
São pequenos tijolos de cimento, com a forma de uma pirâmide decepada no topo. Uma placa de metal traz gravado um ponto e números misteriosos.
Trata-se da materialização de uma coordenada, o ponto exato de intersecção de um meridiano e de um paralelo (respectivamente, as linhas imaginárias verticais e horizontais que dividem o globo).
Com base nesses referenciais são tomadas as medidas como a curvatura de um terreno (curvas de nível), ou a altura de uma montanha. A precisão é fundamental. No caso da irrigação, um erro de centímetros pode fazer a água correr no sentido errado.
A Diretoria de Geociências do IBGE tem um departamento só para cuidar desses marcos e das medições. São duas centenas de técnicos, mas já teve o dobro.
Foi na fase mais heróica, de colocação dos marcos. Cada um exigia equipes de até 16 homens e semanas de observação com teodolitos, instrumentos ópticos para medir ângulos horizontais e verticais.
O emprego dos teodolitos exige intervisibilidade. Ou seja, que de um ponto do terreno se enxergue o outro envolvido na medição. Em alguns casos, isso exigia a construção de torres de 30 metros.
Tudo isso mudou radicalmente com os aparelhos de GPS (leia reportagem na página ao lado). Hoje se podem obter coordenadas em poucas horas, com menor interferência das condições atmosféricas.
O grau de precisão do GPS é grande, da ordem de uma parte por milhão. Em outras palavras, o erro é de no máximo um milímetro a cada quilômetro. O IBGE trabalha com 22 desses aparelhos, 5 deles de alta precisão.
Caminhando
No que respeita à medição de altitudes, porém, o GPS deixa a desejar. O trabalho de nivelamento ainda é feito a pé, ao longo de estradas, com a colocação de marcos de três em três quilômetros.
Cerca de 160 mil quilômetros já foram nivelados assim. A confirmação das medidas é feita na caminhada de volta.
Isto quer dizer que os técnicos do IBGE já percorreram a pé uma distância equivalente a oito voltas no planeta Terra. (ML)

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