São Paulo, domingo, 19 de junho de 1994
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A lógica e a mágica

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Se a eleição fosse hoje, pelo que todas as pesquisas indicam, haveria apenas duas hipóteses de resultado: ou ganha Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno ou Lula vai ao segundo turno contra Fernando Henrique Cardoso (PSDB).
Como a eleição não é hoje, convém indagar quais são as hipóteses que tendem a permanecer até a votação em primeiro turno. Primeiro, uma ressalva: não entendo nada de povo brasileiro e me surpreendo continuamente com o seu comportamento eleitoral. Portanto, a margem de erro em qualquer avaliação é imensa.
Feita a ressalva, a lógica indica que as únicas hipóteses que vão persistir até a votação são exatamente as mesmas que as pesquisas apontam hoje.
Os três candidatos que poderiam alterar o quadro (Leonel Brizola, Orestes Quércia e Esperidião Amin) padecem, sempre pela lógica, de graves carências eleitorais.
A de Brizola é antiga: a crônica anemia de votos em São Paulo, maior colégio eleitoral do país. Enquanto persistir, Brizola tem escassas chances de ser presidente.
Quércia é vítima, além das suspeitas sobre sua lisura administrativa, da divisão de seu partido, o PMDB. O ex-governador paulista superou a fase mais difícil de sua carreira, ao conseguir emplacar como candidato peemedebista.
Mas não foi capaz de ir além disso. Joga todas as fichas no horário gratuito, mas sua mensagem desenvolvimentista parece insuficiente. Afinal, todos os candidatos falam em desenvolvimento.
Amin tem um defeito congênito: não era o candidato de seu partido, que preferia o prefeito Paulo Maluf. Todo candidato de segunda mão costuma enfrentar enormes dificuldades para decolar. Mais ainda as terá Amin, por ser um nome apenas regional.
Tudo isso é o que diz a lógica. Mas a política brasileira insiste em ser mais mágica do que lógica. Em todo caso, até agora o componente mágico tem estado ausente, o que reforça a aposta na lógica.

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